Uma delegação de nove mulheres negras, líderes de favelas, comunidades quilombolas, de terreiro, pesqueiras e ribeirinhas, de oito estados do Brasil, se prepara para ir à Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, pautar racismo, sexismo e as soluções dos seus territórios para enfrentar a crise climática, na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), que acontece entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro. 

A participação da Rede Vozes Negras pelo Clima no evento mundial mais importante a respeito do assunto tem dois objetivos principais. O primeiro é chamar atenção de autoridades nacionais e internacionais para a urgência na adoção do antirracismo como prioridade das políticas climáticas dos países signatários de acordos multilaterais, como o de Paris e o da própria Convenção do Clima (IPCC).  

“Vamos levar uma agenda climática de mulheres negras e antirracista. Atualmente, as políticas para o clima não nos reconhecem, nem a nossos territórios, como estratégicos na elaboração de soluções de adaptação e mitigação climática”, explica Marilza Barbosa, que participa da Rede representando o Coletivo de Mulheres do Morro do Sossego, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, RJ. 

A organização da COP28 – este ano a cargo dos Emirados Árabes Unidos – já divulgou os temas dos eventos oficiais em cada um dos 12 dias de evento. Na programação, embora estejam previstos painéis sobre gênero e direitos indígenas, não há, entre as mais de 200 atividades paralelas anunciadas pela organização da conferência, menção a respeito de discussões sobre as consequências do racismo ambiental na vida das populações negras. 

O segundo objetivo da ida das brasileiras à COP é divulgar um documento que registra violações de direitos relacionadas, direta e indiretamente, às injustiças climáticas por que têm passado os territórios de origem das 11 lideranças. O relatório demonstra que o racismo ambiental tem se materializado na violação dos direitos à água e ao meio ambiente saudável, bem como na falta de saneamento básico.  

“Vamos também defender fundos de perdas e danos acessíveis e desburocratizados às populações mais afetadas, principalmente em momentos de emergência. Além disso, os planos de contingência e melhorias urbanas devem contar necessariamente com a participação das pessoas mais afetadas”, conta Lídia Lins, cofundadora do coletivo Ibura Mais Cultura, da favela do Ibura, na periferia de Recife. 

A estratégia da Rede é, reivindicando uma justiça climática antirracista, pautar compromissos dos Estados-membros com a questão até 2025, quando o Brasil sediará a COP 30, em Belém, PA. 

Racismo e clima 

Dados recentes têm mostrado os impactos do racismo na crise climática, no Brasil. Um levantamento da Defesa Civil Nacional revelou a existência de 14 mil pontos de altíssimo risco de desastre geológico. Atualmente, são cerca de 4 milhões de pessoas vivendo nesses lugares, a maioria delas negras. Outro estudo, lançado pelo Instituto Pólis, em 2022, mostrou que famílias negras e de baixa renda habitam áreas menos dotadas de infraestrutura e serviços ambientais básicos nas cidades do país. 

Em capitais como Belém, 75% da população que mora em áreas de risco é negra e sua renda domiciliar média é de R$ 1,7 mil. Já nas cidades de São Paulo e Recife aqueles que residem em áreas de risco são, respectivamente, 55% e 68% negros, com renda média de R$ 1,1 mil por domicílio.  

Numa realidade em que mulheres negras são as principais responsáveis pelo trabalho do cuidado, seja em casa seja nas comunidades, e chefiam a maioria dos lares em situação de extrema pobreza, são elas as mais vulneráveis às piores consequências da crise climática – da qual, aliás, estão longe de serem as causadoras. Mesmo assim, esse segmento populacional tem sido pressionado por suas duras condições de vida a encontrar soluções que podem sair dos territórios e ser incorporadas às políticas e à agenda climática global.  

Vozes negras 

Lá de Dubai, 9 das 11 mulheres da Rede vão participar dos eventos e discussões e também devem compartilhar suas impressões pelas redes. Uma delas é Amanda Costa, 26, moradora da Brasilândia, São Paulo. Além de líder da PerifaSutentável – coletivo jovem que luta por justiça climática, partindo das periferias urbanas -, a ativista é também influencer no tema.  

Amanda conta que sua participação na COP pode ainda servir para que ela seja uma voz ajudando a esquentar o debate sobre raça, clima e juventude, nas redes aqui no Brasil. 

“Quero mostrar que a crise climática vai afetar a todas as pessoas, só que não na mesma proporção. As mulheres negras já estão sofrendo mais com os impactos. Então, ter a oportunidade de, lá de Dubai, ser uma voz, também faz com que aquilo que a gente fala ecoe dentro do nosso país”, diz.   

Sobre 

A Rede Vozes Negras pelo Clima foi criada a partir da participação das lideranças no projeto Mulheres Negras e Justiça Climática, da Anistia Internacional Brasil, cujo objetivo é ampliar as capacidades de um coletivo de mulheres negras brasileiras que já trabalham em seus territórios na promoção dos direitos humanos, para enfrentar o racismo climático e promover justiça socioambiental. O grupo, formado por mulheres com idades entre 26 e 62 anos, irá à COP28 defender que não é possível desenvolver políticas de adaptação, mitigação, compensação e reparação para territórios vulneráveis à crise climática sem envolver as pessoas mais afetadas pela crise.  

Conheça as 9 mulheres que vão à COP28⬇️ 

 

 

Amanda Costa (São Paulo) 

Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial. Amanda tem realizado uma série de ações de educação ambiental na Brasilândia, local em que vive em São Paulo. 

Redes: @souamandacosta 

 

 

 

 

 

Camila Aragão (Bahia) 

Ativista, feminista, arte educadora, educadora popular, consultora em acessibilidade e agente Comunitária de Saúde em Salvador, Bahia. É integrante de diversos coletivos como Rede Nacional de Mulheres Negras pelo combate a violência, Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e de Baixa Visão, da Associação Brasileira de Lésbicas, do Fórum Baiano de Pessoas Cegas, entre outros.    

Redes: @camila_araga0 @mbmb.oficial @rede.nacionalmulheresnegras 

 

 

 

 

 

   

Lídia Lins (Pernambuco) 

Cria do Ibura, periferia da zona sul de Recife, um dos bairros mais atingidos pelas chuvas de 2022. Advogada, aceleradora cultural, articuladora social, educadora popular, ativista antirracista, dos direitos humanos e socioambientais. É cofundadora coordenadora do Coletivo Ibura Mais Cultura.    

Redes: @iburamaiscultura 

@lidialins.adv 

 

 

 

Luciana Souza de Oliveira (Espírito Santo) 

Técnica de Enfermagem, representante da Comissão de Atingidos de Regência Augusta e EntreRios – Foz Sul do Rio Doce (Linhares – ES), que sofreu em sua calha o maior crime ambiental do Brasil. Membra titular do Conselho Municipal de Cultura de Linhares do segmento Cultura Popular e Tradicional. Representante das minorias no Comitê Estadual de Vulnerabilidade Social do ES e representante dos atingidos em instâncias da governança da Câmaras Técnica CT- PDCS e CT- EI do desastre. 

 

 

 

 

 

Isabel Cristina Silva de Souza (Ceará) 

Ativista do Movimento Quilombola do Ceará. Coordenadora Nacional da CONAQ, liderança quilombola na Associação Remanescentes do Quilombo dos Caetanos em Capuan Caucaia. Atualmente conselheira do Conselho Estadual de Política Cultural do Ceará. Comitê de Expressões Afro culturais. Coletivo de Mulheres Quilombolas da CONAQ. Estudante UNILAB CE, graduação em Pedagogia. Desempenha ações de defesa do território e da vida nos quilombos. 

Redes: @cristina.capuan  

 

 

Maria José Pacheco (Bahia) 

Assistente Social, moradora de Salvador (BA) e trabalha há 20 anos com comunidades pesqueiras. É membro do Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), da coletiva Mahin, da Coalizão Negra por Direitos e Especialista em Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais pela Faculdade de Direito da UFBA.  

 

 

 

 

 

 

 

 

Marilza Barbosa Floriano (Rio de Janeiro) 

Moradora do Morro do Sossego, localizado no bairro Pantanal (Duque de Caxias-RJ). Articuladora de território, mãe, avó, mulher preta. Parte da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência da Baixada Fluminense e da Frente Estadual pelo Desencarceramento (RJ). Desenvolve o trabalho dos quintais produtivos, colocando em prática os conceitos da agroecologia através das composteiras, da reciclagem, da consciência ambiental, da produção de alimentos sem agrotóxico e da troca de saberes com os moradores do Morro, em especial as mulheres. 

Redes: Marilza Barbosa Floriano (Facebook) / @marilzabarbosafloriano 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mônica Patrícia Baldino (Rio de Janeiro) 

Natural de São Paulo, técnica em edificações por formação, atuando por 12 anos como Consultora de Qualidade nas normas ISO9001 e PBQP-H especialista em construção civil. É feminista, capelã, ativista, Iyalorixá do Ilé Asé ebun Sango fun mi, candomblé nação ketu com descendência do Engenho Velho da Casa Branca – BA. Transferiu seu terreiro para Guapimirim, RJ no ano de 2015.  Realiza práticas agroecológicas, coleta seletiva e reaproveitamento de alimentos e de materiais recicláveis. Fundadora e presidenta da Sociedade da Mulher Guerreira desde o ano de 2018, idealiza e coordena os projetos sociais, culturais e socioambientais, bem como, as ações socioassistenciais realizadas na organização. Além da Sociedade da Mulher Guerreira, também lidera o Fórum Permanente das Mulheres Negras de Guapimirim realizando ativismo permanente contra o racismo.  

Redes: @sociedadedamulherguerreira / @iyamonicadeoba

 

 

Silvana Barbosa (Maranhão) 

Maranhense, quebradeira de coco babaçu, presidente da Rede Mulheres do Maranhão. Luta em favor do babaçu livre e da floresta em pé. 

Redes: @bsilvanabarbosa878 / @redemulheresdomaranhao 

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