Em evento realizado hoje (28), em Genebra, durante o 32° Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Anistia Internacional chamou a atenção para o aumento do número de homicídios em operações policiais na cidade do Rio de Janeiro, às vésperas da realização dos Jogos Olímpicos. A organização registrou, somente no mês de junho, pelo menos 23 mortes em operações policiais até a última sexta feira (24).

 “Não é aleatório que o número de mortes pela polícia aumente no contexto dos megaeventos esportivos. A realização de um megaevento tende a aprofundar uma violação que já acontece na cidade, então,é fundamental as autoridades envolvidas, não só em nível estadual, mas também federal, adotem medidas preventivas para evitar que isso aconteça durante a Olimpíada”, afirma Renata Neder, assessora de direitos humanos da Anistia Internacional Brasil.

Segundo dados oficiais, somente nos quatro primeiros meses de 2016, a polícia matou 111 pessoas na cidade olímpica. Outra preocupação da organização é a realocação de policiais que estavam em serviços administrativos para atuarem na segurança do evento olímpico, pois muitos destes policiais aguardam julgamento de crimes que cometeram.

O debate “O legado de direitos humanos em eventos esportivos” contou com a participação de Ana Paula Oliveira, moradora de Manguinhos, que em maio de 2014, véspera da Copa do Mundo, teve seu filho Johnatan, de 19 anos, morto com um tiro nas costas disparado pela polícia. “Peço que as Olimpíadas deixem um legado de dignidade, não de violação de direitos e atrocidades. Estou aqui pelo meu filho e por todos os mortos pela polícia do Rio de Janeiro”, afirmou.

O caso de Johnatan não foi um caso isolado e está documentado no relatório “Você matou meu filho: homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro”, lançado pela Anistia Internacional no ano passado. O relatório aponta um aumento de 40% nas mortes em operações policiais no estado do Rio de Janeiro no ano de realização da Copa do Mundo. Desde 2009, quando foi escolhida para sediar as Olimpíadas, mais de 2.500 pessoas foram mortas pela polícia na cidade.

Maria da Penha, moradora da Vila Autódromo, comunidade vizinha ao Parque Olímpico que foi quase integralmente removida para realização dos jogos, também esteve presente no evento denunciando a ausência das salvaguardas legais para proteger o direito à moradia e a violência sofrida pela comunidade desde que a cidade foi escolhida como sede dos jogos. Ela conta que em 2015 foi agredida pela Guarda Municipal ao tentar defender uma família de uma remoção forçada. “Tive meu nariz quebrado ao tentar proteger uma família. Em março deste ano, minha casa foi demolida e agora estou morando em um contêiner, aguardando a minha casa”, relata.

Das 600 famílias que moravam na Vila Autódromo, somente 20 conseguiram se manter na comunidade. A Prefeitura fez um acordo para construir as casas em uma outra localidade. “Peço ao COI que supervisione a implementação desse acordo com a Prefeitura, para garantir que ele seja cumprido”, diz Maria da Penha.

 Ao COI e à ONU, a Anistia Internacional pede que sejam adotadas medidas para garantir que violações de direitos humanos não aconteçam em consequência da realização dos jogos e que haja transparência sobre o plano de segurança a ser adotado e mecanismos de denúncia e responsabilização, caso aconteçam abusos e violações.

O evento foi organizado pela Anistia Internacional , Terre des Hommes e Rede Nosso Jogo.

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