Na noite do dia 28 de novembro de 2015, cinco jovens moradores do morro da Lagartixa, em Costa Barros, foram assassinados com 111 tiros disparados por policiais do 41º BPM (Irajá). Betinho (16 anos), Carlinhos (16), Wesley (22), Wilton (25) e Cleiton (18), tinham passado a tarde no Parque Madureira, em comemoração ao primeiro salário de Betinho como jovem aprendiz, e estavam a caminho de uma lanchonete, quando foram brutalmente assassinados. Os policiais fraudaram a cena do crime, plantando uma arma próxima ao carro, e acusaram os jovens de supostamente terem disparado contra eles.

Três policiais foram condenados no 2º Tribunal do Júri e um quarto policial foi julgado inocente. Os três PMs condenados foram expulsos da Polícia Militar nesse mês de novembro. Cinco anos depois, os familiares seguem na luta contra o racismo e pela memória dos jovens.

“Por conta desse estado racista, esses jovens pagaram com a vida. Por serem negros, pobres e morarem em uma comunidade não puderam viver como pessoas normais, não puderam ir e vir sem ser maltratados e humilhados, e não tiveram o direto de se defender. Somos negros, sim, e com muito orgulho. Queria que parassem com esse racismo”, observa Márcia Oliveira, mãe de Wilton.

Além de ter perdido Wilton, que era o motorista do carro, Márcia perdeu o filho mais novo, Wilkerson, meses depois do assassinato. Keu, como era chamado, de 16 anos, sobreviveu à chacina, pois conseguiu fugir em sua moto, mas assistiu ao fuzilamento dos jovens no carro. Segundo Márcia, isso afetou a saúde de Keu, que passou a queixar-se de muita dor de cabeça e faleceu, vítima de um acidente vascular cerebral. Primo dos jovens, Rafael Mota, 29, lembra que passou de carro com o primo no mesmo local da tragédia, uma semana antes.

“Eu também poderia ter sido morto naquele carro, pois o simples fato de ter a pele preta, morar numa favela e estar dentro de um carro faz de nós, pretos, motivo para sermos alvos do genocídio que vem nos matando desde os tempos do início da escravidão, que ainda existe até hoje. Parem de nos matar”, clama Rafael Mota.

Cinco anos depois, as polícias do Estado do Rio de Janeiro continuam matando jovens negros moradores de favelas. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), as polícias mataram 145 civis no mês de outubro, um aumento de 179% em relação a setembro, quando houve 52 casos. Após o Supremo Tribunal Federal determinar a suspensão das operações policiais em favelas, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, o Estado registrou uma queda de 74% nos casos de homicídios decorrentes de intervenção policial, entre junho e agosto.

“Sabemos que a política do confronto é uma das maiores responsáveis pela alta taxa de letalidade da polícia, que vitimiza de 4 a 5 jovens por dia, em sua maioria negros e pobres, todos os dias no Rio de Janeiro. Cinco anos depois da Chacina de Costa Barros, a política de enfrentamento violenta do governo não mudou. É preciso que haja um plano para a redução dos homicídios decorrentes de intervenção federal, conforme determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Nova Brasília”, enfatiza Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.

A expulsão dos policiais militares só ocorreu quase 5 anos após a chacina, depois de os familiares cobrarem publicamente pela decisão da corporação. Rosileia Castro, mãe de Wesley, perdeu seu filho único na chacina e revela que sempre teve esperança na luta por Justiça.

“Quero que eles botem a mão na consciência e se arrependam, por saber que eles acabaram com 5 jovens e dilaceraram 5 famílias. Nunca passou pela minha cabeça que esses policiais iam matar os meninos dessa forma, sem que eles pudessem ter se defendido”, observa Rosileia, que hoje cuida do filho de Wesley.

Dona Joselita, mãe de Betinho, faleceu meses após a tragédia, vítima de depressão. Dentre as cinco famílias, a de Carlinhos é a única que ainda não recebeu a indenização. O estado foi condenado ao pagamento de indenização na Justiça, mas recorreu da decisão. Adriana Pires, mãe de Carlinhos, tem passado dias difíceis para sustentar a filha pequena, que sofre muito com a ausência do irmão mais velho.

“Ela sofre muito, pois era muito apegada ao irmão. Ele cuidava dela para eu trabalhar. Eu parei de trabalhar depois que tudo aconteceu. Essa semana é muito difícil para nós. Eu não estou bem. Vem tudo de volta na cabeça”, lamenta Adriana.

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