A tão esperada oitava temporada de Game of Thrones está com tudo! É verdade que a série choca os espetadores e gera muitas polêmicas com violência explícita, principalmente contra as mulheres. No entanto, muitos aspetos da vida real hoje são piores do que o mítico mundo de Westeros.

[SPOILER ALERT: revela partes da trama até à segunda temporada]

1. EXECUÇÕES

Game of Thrones começa com Ned Stark, Lorde de Winterfell e Guardião do Norte, executando um desertor. Como ninguém está a salvo, ele também acaba decapitado pelo déspota Rei Joffrey, sete episódios depois.

Apesar de ser palco de várias atrocidades, Westeros não é nada em comparação com as 690 execuções que a Anistia Internacional reportou, em todo o mundo em 2018. O número exclui os milhares de execuções que se estima terem sido realizadas na China.

Os métodos de morte incluem injeção letal e enforcamento. Na Arábia Saudita, ainda é utilizada a decapitação.

2. TORTURA

Os exemplos de práticas cruéis, desumanas ou degradantes de Game of Thrones poderiam ter sido inspirados pela vida real. Em 2019, a Anistia Internacional documentou várias práticas de tortura que nos lembram as cenas de Theon Greyjoy durante a segunda temporada: agressão e violação sexual (Líbia), adolescentes forçados a cantar (Venezuela) ou choques elétricos em órgãos sexuais de crianças (Egito). Este mês, entraram em vigor punições cruéis e desumanas, como a morte por apedrejamento por atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo e amputação por roubo no Brunei.

Esfolar os inimigos ainda vivos é uma prática dos Bolton. Na Arábia Saudita, o blogger Raif Badawi foi condenado a uma pena de prisão e a levar mil chicotadas. © HBO / Sky Atlantic

A Anistia Internacional tem documentado casos de tortura e outros maus-tratos em todo o mundo, desde espancamentos e violações sexuais até ao uso de cães para intimidar as vítimas.

Saiba mais sobre a campanha pelo fim da Tortura.

3. CASAMENTOS FORÇADOS e outras formas de VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

Game of Thrones tem recebido críticas pela representação que faz das mulheres.  Na série, mulheres são violadas, forçadas à escravidão sexual ou submetidas a outros tipos de violência de gênero. Algumas das protagonistas foram vendidas ou forçadas a casar. No primeiro episódio, o irmão de Daenerys Targaryen obriga-a a um casamento para promover as suas ambições.

As mulheres na série Game of Thrones raramente podem escolher com quem casar, uma situação bastante comum para muitas outras no mundo real. © HBO / Sky Atlantic

Atualmente, os direitos das mulheres até podem ficar melhor na fotografia, mas os abusos continuam. Um relatório Anistia Internacional sobre a República Dominicana, lançado em março, indica que a política nacional recorre à violação sexual e comete outras formas de tortura para punir as mulheres profissionais do sexo. No Irã, vigilantes pró-governo atacaram mulheres por se afirmarem contra as leis que obrigam a utilização do hijab.

Não sabemos a verdadeira escala dos casamentos forçados, mas a organização GirlsNotBrides indica que 650 milhões de mulheres, ainda hoje vivas, casaram-se antes de fazer 18 anos.

O Burkina Faso é um dos países onde o casamento forçado continua a ser uma realidade. Em outubro de 2018, a Anistia Internacional revelou que mais de metade das jovens do país casaram-se quando ainda eram menores. No relatório produzido constava ainda que, em apenas um mês, 48 meninas sofreram complicações médicas após terem sido alvo de práticas de mutilação genital feminina.

Mas as mulheres e meninas de Westeros e de todo o mundo estão reagindo. O movimento #MeToo provocou ondas que foram além de Los Angeles. Em fevereiro, a Anistia Internacional mostrou a história de três mulheres nepalesas que assumiram uma voz contra a violência sexual no país.

4. VIGILÂNCIA

Ninguém está a salvo quando abre a boca em King’s Landing. Espiões a soldo dos mestres da manipulação “Littlefinger” ou Varys contam-lhes tudo sobre a vida na capital.

Com personagens como “Littlefinger” e os seus informadores por toda a parte, não há muitos segredos na Game of Thrones. © HBO / Sky Atlantic

Hoje, já não existem estes “passarinhos” porque os Estados podem ter programas de vigilância em massa das comunicações online e móveis.

O plano projetado pela Google para apoiar a censura na China – designado com o nome de código “Dragonfly” – permitiria que o governo de Pequim espionasse os utilizadores da plataforma. A empresa recuou publicamente em dezembro de 2018, mas o projeto ainda não foi de todo descartado.

Um relatório da Anistia Internacional sobre os métodos de vigilância dos defensores de direitos humanos no Paquistão revelou que a sociedade civil está sendo atacada por uma campanha digital maliciosa. Os ativistas foram alvo de mensagens personalizadas que, assim que fossem abertas, poderiam infetar dispositivos com malware ou direcioná-los para páginas falsas criadas para roubar senhas de plataformas como o Facebook.

5. ARMAS QUÍMICAS E OUTROS CRIMES DE GUERRA

O mundo medieval de Game of Thrones é uma zona de guerra brutal com ataques a civis, armas químicas, como o “fogo vivo”, e exércitos de escravos compostos por crianças raptadas. Isso sem falar dos dragões!

Com personagens como “Greyworm, líder do exército de crianças chamado de “Unsullied”. © HBO / Sky Atlantic

A Anistia Internacional não tem conhecimento do uso de dragões, mas documentou crimes de guerra. No ano passado, foi possível constatar o uso de armas químicas pelo governo sírio, através de um ataque com gás de cloro, na cidade de Saraqeb. Onze pessoas necessitaram de tratamentos médicos de urgência, de acordo com depoimentos recolhidos pela Anistia Internacional.

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Não deixe que a realidade entre em competição com a série Game of Thrones pelas piores razões, como a violência e a crueldade. Envolva-se e defenda os direitos humanos em todo o mundo!

 

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