Milena Cayres*

Nós somos muitas, e somos força! 

Somos muitas lutando em diferentes contextos, realidades e frentes por justiça para todas e todos. Somos mulheres, e algumas de nós já nascemos lutando, como indígenas, quilombolas, sem-terra e tantas outras que, por uma questão de sobrevivência, encontram no ativismo uma forma de resistir para continuar existindo. Outras, como eu, escolhemos ser ativistas por entender que essas e outras pautas pertencem a todas nós. Apesar das diferentes realidades, nós mulheres compartilhamos muitos dos efeitos negativos de uma estrutura social que nos deixa vulneráveis e  nos violenta das mais diversas formas a todo momento. E como ativistas, mesmo estando na linha de frente, na maioria das vezes continuamos sendo invisibilizadas.

Mas isso tudo nunca nos fez parar de lutar. Mulheres como Margarida Maria Alves, violentamente assassinada por lutar pelos direitos de trabalhadoras rurais, mostraram seu poder em vida e continuam mobilizando pessoas mesmo após a sua morte. Mulheres indígenas, vítimas de um passado colonial cada vez mais presente e marcado pelo genocídio de seus povos, continuam mobilizadas e firmes em suas pautas. E é para fortalecer essas e outras pessoas que a juventude da rede Banana-Terra se mobiliza. Num processo de construção colaborativa com comunidades e lideranças, jovens das regiões norte, nordeste e centro-oeste atuam falando sobre direitos e pensando em como é possível se mobilizar para garantir que eles sejam respeitados.

A união faz a força, e assim como dois rios que se cruzam e crescem juntos, em 2019 a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas somou forças com a poderosa Marcha das Margaridas e juntas elas levaram mais de 100 mil pessoas para as ruas da capital do país. Em meio a um período onde assistimos à maior floresta tropical do mundo em chamas, graves retrocessos, aumento da violência no campo e na cidade, além do desmatamento desenfreado, mulheres das mais diversas regiões do Brasil exerceram o seu direito de se mobilizar pacificamente, e gritaram alto por um futuro livre de violência, por terras demarcadas, por uma alimentação sem veneno e por direitos constitucionais garantidos. As mulheres são maioria na sociedade e protagonistas históricas na luta por direitos. E por isso (e não somente por isso) precisam ser fortalecidas, não invisibilizadas.

 Essa foi a minha primeira experiência numa manifestação dessa magnitude. E poder ter a oportunidade de escutar, aprender e trocar com essas mulheres foi transformador. Esse tipo de intercâmbio nos ajuda a entender melhor o quanto todas as lutas estão ligadas, sejamos nós mulheres da cidade, das florestas ou do campo.

Dar as mãos é o caminho mais poderoso para seguirmos nos mobilizando, exercendo e garantindo nossos direitos, dignidade e um planeta preservado e com toda a sua biodiversidade protegida. Conexões têm o poder de causar grandiosas transformações. A rede Banana-Terra se mobiliza para promover conexões e muita ação para somar forças com as lutas de Margaridas, Guajajaras, Fátimas, Mazés, além de muitas outras, e garantir que elas continuem vivas, assim como seus povos.

Buscar informação e fazer algo para mudar o planeta é algo que todo mundo pode fazer. Basta dar o primeiro passo. Vem com a gente?

Texto dedicado a todas as mulheres ativistas que fizeram parte da minha história. A todas vocês: meu mais profundo respeito, amor e gratidão.  

*Gestora de Comunidades do Projeto Banana-Terra.

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