Por Jandira Queiroz*
Em 2013, me juntei ao time da Anistia Internacional Brasil para ser a “Assessora de Ativismo e Mobilização”. Era um título incomum para um posto de trabalho sem muitos semelhantes no mercado. Mas quando li a descrição, pensei: eu sou a pessoa certa para essa posição, e se não me contratarem, que tontos… Rsrs. Lembro de dizer na entrevista que havia aprendido, nos movimentos sociais que participei, a fazer grandes coisas com quase nenhum dinheiro. Vi olhinhos brilharem no comitê de seleção.
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O desafio era criar uma estrutura sólida para o engajamento organizado e duradouro de pessoas no movimento global de direitos humanos, fazendo ecoar mais forte as vozes que não deixam injustiças caírem no silêncio oco das prisões arbitrárias, torturas, execuções, despejos, genocídios, feminicídios, ações violentas por discriminações diversas. Fortalecer no Brasil a cultura da solidariedade com pessoas do mundo todo, e do Brasil com o brasileiro. O escritório, recém aberto, era um piloto no novo projeto de descentralização da Anistia Internacional, então precisávamos fazer bonito, com poucos recursos, em um tempo curto. Resumindo, criar um movimento robusto num país continental com quase nenhum dinheiro. Topei na hora!
Ao chegar, encontrei um grande “quase nada”. Tínhamos uma meia dúzia de voluntas no Rio de Janeiro que haviam participado de uma única ação no ano anterior. Em seguida, com a movimentação crescente, começaram a aparecer algumas pessoas que tinham feito parte do movimento Anistia Internacional nos tempos do regime militar no Brasil, e que nos trouxeram elementos importantes da nossa própria história como movimento no Brasil.
Era como se eu tivesse ouro em pó nas mãos, mas sem as ferramentas para transformá-lo em jóia. A urgência da minha missão era muito clara, já naquela época: a violência no país estava em crescimento, os megaeventos esportivos eram a desculpa perfeita para remover dezenas de comunidades para a construção de obras de infraestrutura, os movimentos sociais estavam enfraquecidos, os espaços de participação social em contrição, a repressão às manifestações populares por direitos era um escândalo, e as pessoas não entendiam o poder da cidadania em suas mãos.
Encontrei a solução na transformação da revolta e da desilusão em ações concretas: esperança. Juntar pessoas que pensam parecido, valorizando os pontos comuns e as diferenças, para construir um novo conceito de sociedade, ‘pasito a pasito’. Conseguimos mobilizar muita gente, logo de início. Mas percebemos, logo em seguida, que as pessoas vinham e iam embora em muito pouco tempo. Elas tinham um enorme prazer em conversar com outras sobre as horríveis violações de direitos humanos que estavam acontecendo pelo mundo, mas não viam o efeito imediato do trabalho que estavam realizando, e isso fazia com que aquela chama da esperança se apagasse com facilidade. Faltava um elemento-chave que nos fizesse ser um movimento de resultados mais palpáveis e visíveis a olho nu.
O próximo passo, então, foi investir na organização de uma estrutura que pudesse ‘abrigar’ mais e mais pessoas de forma que elas pudessem oferecer seu tempo e força de trabalho, mas também receber as recompensas que buscavam. Erra feio, erra rude quem pensa que esse investimento envolve rios de dinheiro, aluguel de salas cheias de computadores, metros e metros de papel impresso em cores vibrantes… Basicamente, o investimento significou tempo e sinapses de cinco pessoas em frente aos seus computadores desenvolvendo um sistema de organização de atividades, compartilhamento de informações e valorização das experiências que permitisse ao conjunto de ativistas ver seu trabalho dar resultado na frente dos seus olhos.
Usando as ferramentas disponíveis no próprio movimento e no mercadão popular da internet, observando outras experiências no campo e bebendo na fonte de alguns estudos teóricos sobre organização e mobilização de pessoas para impacto social, hoje tenho orgulho de dizer que construímos um espaço eficiente para que pessoas possam ser a diferença que querem ver no mundo.
E como ainda há muito a transformar no planeta, te convido a conhecer mais de perto o ativismo da Anistia Internacional Brasil, um espaço feito por centenas de pessoas incríveis que acreditam no poder do sonho sonhado junto. A gente chama isso de #AtivismoSemFreio. Só vem!
*Jandira Queiroz é gerente de Ativismo e Mobilização da Anistia Internacional Brasil