Uma semana após o lançamento, o aplicativo Fogo Cruzado, iniciativa da anistia Internacional, recebeu mais de 400 notificações relatando tiroteios e/ou disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A Anistia divulga hoje o primeiro balanço semanal da ferramenta colaborativa, com a consolidação das informações recebidas ao longo dos últimos sete dias.
Além das notificações compartilhadas colaborativamente pelos usuários, o balanço semanal inclui ainda dados coletados via imprensa e canais da própria polícia, como os boletins diários publicados no site da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Cerca de 15 mil pessoas já fizeram o download gratuito do aplicativo nas plataformas Android e iOS.
“A poucas semanas do início da Olimpíada no Rio, a imediata adesão da população carioca ao aplicativo reforça a urgência de enfrentar essa situação com uma política de segurança pública que de fato respeite os direitos humanos”, afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional .
“O aplicativo começa a desenhar a realidade que afeta centenas de milhares de moradores do Rio de Janeiro: numerosos e seguidos tiroteios e disparos de armas de fogo. O mapa colaborativo confirma que essas ocorrências são mais frequentes e fatais nas favelas que sofrem com a criminalização da pobreza e com a lógica de guerra imposta pelo Estado”.
O relatório dessa semana inicial de interatividade, com notificações registradas até as 21h de ontem (12/07), mostra que regiões como Duque de Caxias, São João de Meriti e Complexo do Alemão foram especialmente atingidas pela violência armada. No Alemão, foram notificados tiroteios em cinco dos últimos sete dias. Já quem vive em Duque de Caxias notificou tiroteios diários no período.
Do total de notificações enviadas por usuários, cerca de 36% não puderam ser aproveitadas por serem repetidas, incompletas ou relatarem ocorrências em cidades fora da atual área de cobertura do aplicativo. Assim, foram registradas 265 notificações no mapa, das quais 24 notificações apontaram vítimas fatais, 20 notificações indicaram feridos e 51 registraram ocorrência de operação policial. Todas as notificações enviadas por usuários são moderadas antes da postagem no mapa online.
“Algumas pessoas apelidaram o aplicativo de ‘waze’ dos tiroteios, mas o Fogo Cruzado não é um serviço de alerta em tempo real. As postagens são moderadas e cruzadas com outros dados para produzir um mapa colaborativo que traz informações antes inacessíveis sobre violência armada no dia a dia”, diz Cecília Oliveira, gestora de dados do Fogo Cruzado.
“Por exemplo, ao comparar os dados do aplicativo com outras fontes, como a mídia e informações da PMERJ disponíveis no site da Instituição, a diferença nos números é significativa. Isso acontece porque nem todo disparo de arma de fogo ou tiroteio se transforma em uma ocorrência policial. Quando a denúncia formal não é feita, a informação não entra nas estatísticas e tampouco chega à imprensa; daí a função social do mapa colaborativo”, explica Cecília.
O aplicativo, que opera em modo piloto até o final deste ano, está sob constante atualização para corrigir falhas técnicas apontadas por usuários e upgrades do Fogo Cruzado serão disponibilizados em breve nas lojas para download gratuito. Para facilitar buscas mais detalhadas nos resultados do mapa colaborativo, novos filtros e palavras-chave estão sendo desenvolvidos e instalados. Atualmente, já é possível selecionar dados por períodos de tempo e fonte de informação (Polícia, Imprensa e Usuários) diretamente no site.
A Anistia Internacional programou para o dia 02 de agosto a publicação do primeiro relatório mensal a partir das informações reunidas pelo aplicativo, revelando o contexto de violência armada na Cidade Pré-Olímpica. A ideia é divulgar periodicamente os dados do Fogo Cruzado até dezembro, quando será avaliada a possibilidade de expandir a cobertura da ferramenta para outras cidades e regiões brasileiras. Além dos boletins semanais, relatórios mensais e trimestrais trarão informações adicionais sobre o impacto da violência armada em serviços da cidade como transporte e funcionamento de escolas.
Esta iniciativa faz parte da campanha “A violência não faz parte desse jogo!“, que denuncia os riscos de aumento de violações de direitos humanos no contexto de mega eventos como os Jogos Olímpicos Rio 2016.
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