Uma advogada de Hong Kong foi presa por encorajar as pessoas a acender velas em memória às vítimas de uma sangrenta repressão. Três ativistas do Zimbábue foram sequestradas, espancadas, agredidas sexualmente e enfrentam anos de prisão. Neste sábado, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Anistia Internacional faz questão de lembrar: essas pessoas não estão sozinhas. A partir de hoje, a organização mobiliza, internacionalmente, a Escreva por Direitos 2022. A maior campanha de defesa dos direitos humanos em todo o planeta convida todas as pessoas a um simples gesto: escrever cartas. O objetivo é que essas e outras pessoas tenham seus direitos assegurados. 

A Escreva por Direitos se iniciou em 2001, quando um grupo de amigos de Varsóvia, na Polônia, decidiu celebrar o Dia dos Direitos Humanos realizando uma maratona de 24 horas para escrever cartas. Ao longo do dia, eles conseguiram escrever mais de 2 mil correspondências em nome de indivíduos cujos direitos estavam sendo negados por autoridades estatais. A cada ano, mais pessoas em mais países também começaram a escrever cartas. Somente em 2021, mais de 4,5 milhões de ações – incluindo cartas, e-mails, tweets e assinaturas de petições – foram realizadas em mais de 200 países e territórios. 

Em 2022, a Anistia Internacional Brasil se junta às mais 150 seções ao redor do mundo e pede justiça para vítimas de seis violações. Entre elas estão: 

  • Shahnewaz Chowdhury, de Bangladesh, preso por se manifestar em suas redes sociais em defesa do meio ambiente. Ele foi processado por uma usina em seu vilarejo por incitar os jovens a se manifestarem;  

  • Yren Rotela e Mariana Sepúlveda, no Paraguai, mulheres trans impedidas de terem seus documentos retificados com sua identidade de gênero, e que sofrem sucessivas violações relacionadas a este direito negado; 

  • A cabeleireira Dorgelesse Nguessan, do Camarões, condenada a cinco anos de prisão após ter participado de um protesto pacífico pela primeira vez na vida; 

  • A advogada Chow Hang-Tung, de Hong Kong, condenada a 22 meses de prisão após organizar a maior vigília à luz de velas do mundo em homenagem às vítimas da repressão de Tiananmen; 

  • Aleksandra Skochilenko, da Rússia, presa por uma ação pacífica para proteger as pessoas de sua cidade dos conflitos com a Ucrânia; 

  • Joanah Mamombe, Netsai Marova e Cecillia Chimbiri, do Zimbábue, ativistas que foram presas, sequestradas e torturadas. Agora, elas estão sendo acusadas e podem pegar anos de prisão.

 

Para participar da Escreva por Direitos, basta entrar no site da Anistia Internacional Brasil. Em poucos cliques, é possível saber mais sobre cada uma das histórias e enviar mensagens diretamente para os tomadores de decisão de cada país ou território – exigindo que os direitos humanos dessas pessoas sejam preservados acima de tudo.  

 

“Defender os direitos humanos é uma luta de todas as pessoas, e que deve ser exercida em todos os dias da vida. O mundo está diante de incontáveis ameaças, e este ano foi profundamente marcado por protestos em massa e repressões violentas. Mais do que nunca, é preciso estar ao lado dessas pessoas. Reunimos histórias de pessoas que têm seus direitos violados e necessitam urgentemente de ação e solidariedade. Pressionamos autoridades e também escrevemos milhões de mensagens de apoio. Estamos dizendo que essa pessoa que sente a dor da injustiça não está sozinha. Assim, somos capazes de mudar o rumo da história. Escrever é uma atitude que está ao alcance de qualquer pessoa”, explica Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.  

 

A Escreva por Direitos é uma prova do poder do ativismo e da ação coletiva. A Anistia Internacional celebra a resposta dada a Bernardo Caal Xol, ativista ambiental da Guatemala que foi libertado em 2022 após ser preso sob falsas acusações; a Magai Matiop Ngong, libertado em março após ser condenado à morte com apenas 15 anos no Sudão do Sul; e ao defensor dos direitos humanos do Burundi Germain Rukuki, libertado em 2021 quatro anos após uma sentença de 32 anos de prisão.
 

O mundo se levanta 

Do Irã e China a Cuba e Sri Lanka, os últimos 12 meses viram pessoas em todo o mundo afirmarem ruidosamente seu direito a protestos pacíficos. Testemunhamos atos icônicos de desafio, incluindo mulheres afegãs saindo às ruas para protestar contra o domínio do Talibã e mulheres iranianas postando vídeos de si mesmas cortando o cabelo em protesto contra as leis abusivas e forçadas do país. Quase sem exceção, esta onda de protestos em massa foi recebida com respostas obstrutivas, repressivas e muitas vezes violentas por parte das autoridades estatais.  

A crescente ameaça global ao direito de protestar é um dos principais campos de batalha dos direitos humanos de nosso tempo. Nas últimas décadas, questões como a crise ambiental, a crescente desigualdade e as ameaças aos meios de subsistência, o racismo sistêmico e a violência de gênero tornaram a ação coletiva cada vez mais necessária. Eles deram origem a algumas das maiores mobilizações de protesto vistas em décadas. Grupos como Black Lives Matter, MeToo e movimentos de mudança climática inspiraram milhões em todo o mundo a sair às ruas e online.  

Em todo o mundo, governos de todos os tipos responderam implementando uma gama cada vez maior de medidas repressivas. Os manifestantes em todos os lugares estão enfrentando resistência, com um número crescente de leis e outras medidas para restringir o direito de protestar, com o uso excessivo da força, com vigilância direcionada, com desligamentos da internet e censura online, e com abuso e estigmatização.  

Escrever uma carta, enviar um tweet, assinar uma petição. Você não pode mudar o mundo com algo tão simples? Sim, você pode!  

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