A comunidade internacional cedeu à pressão internacional mais uma vez, minimizando o sofrimento de centenas de crianças iemenitas, ao atenuar as críticas às graves violações à legislação internacional lideradas pela coalizão da Arábia Saudita no relatório anual sobre Crianças e Conflitos Armados (Children and Armed Conflict Report – CAAC) do Secretário-Geral da ONU, segundo a Anistia Internacional.

“Toda vez que as Nações Unidas fazem concessões que permitem que os praticantes de crimes internacionais escapem de críticas ou da justiça, isso encoraja outros a cometerem crimes que causam um sofrimento enorme a pessoas em todo o mundo”, disse Sherine Tadros, diretora do escritório das Nações Unidas em Nova York, à Anistia Internacional.

“Apesar de a menção tardia no relatório CAAC da coalização liderada pela Arábia Saudita ter sido bem-recebida, é uma vergonha que a ONU tenha cedido à pressão e a incluído em uma nova categoria, criada especificamente para limitar a condenação da coalizão”.

Como resultado da pressão diplomática da Arábia Saudita, o relatório – que trata do ano de 2016 – contém uma nova categoria que reconhece os esforços da coalizão em “aplicar medidas, durante o período do relatório, para melhora a proteção das crianças”.

A Anistia Internacional não viu prova alguma de tais medidas. Nas últimas semanas, a AI confirmou o uso de uma bomba de origem estadunidense pela coalizão liderada pela Arábia Saudita em um ataque ocorrido em agosto, que matou sete crianças.

Segundo o relatório CAAC, 693 crianças foram mortas ou feridas pela coalizão liderada pela Arábia Saudita em 2016.

“Os poderes internacionais deveriam fazer o possível para manter a pressão sobre os Estados que deliberadamente negligenciam a vida de crianças. Os EUA e outros Estados que fornecem armas à coalizão liderada pela Arábia Saudita no Iêmen deveriam parar de fazê-lo, e o Conselho de Segurança da ONU deveria impor um embargo de armas para dar um fim a esses terríveis abusos”, afirmou Sherine Tadros.

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Histórico:

Em 2015, a Arábia Saudita chegou a ser incluída no relatório da CAAC, mas acabou, depois, sendo removida pelo então Secretário-Geral Ban Ki-Moon, após uma intensa pressão diplomática. Segundo os números do último Mecanismo de Monitoramento e Divulgação (Monitoring and Reporting Mechanism – MRM) do Unicef, entre 26 de março de 2015 e 31 de março de 2017, pelo menos 1.595 crianças foram mortas e 2.542 foram feridas no Iêmen. A coalizão liderada pela Arábia Saudita é responsável pela maioria dessas mortes infantis.

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