O relatório anual da Anistia Internacional provê um panorama compreensivo dos direitos humanos em 160 países durante 2014 – a versão em português do relatório cobre 62 países –, incluindo análises regionais e detalhes de 24 países nas Américas.
“Ano passado foi visto um aumento da insegurança e de conflitos por todas as Américas. Protestos surgiram em diversos países, incluindo Venezuela, Brasil, México e EUA, e eram geralmente repelidos com violência estatal. Também vimos o trágico aumento da violência utilizada pelas redes criminosas que agem com total impunidade”, afirmou Erika Guevara Rosas, diretora da Anistia Internacional para a região das Américas.
“Desde estudantes desaparecidos no México, a revelações de tortura da CIA nos EUA e a manifestantes alvos de balas da polícia no Brasil, 2014 foi um ano vergonhoso para a região.”
A Anistia Internacional prevê que, sem uma mudança estrutural que coloque em prática leis e políticas, além de sérios comprometimentos pelos Estados para o fim de violações de direitos humanos, as Américas vão, em seu geral, ver:
• Aumento de protestos e manifestações, a menos que o governo aja contra a impunidade e corrupção e responda adequadamente às demandas econômicas e sociais do povo.
• Continuidade na brutalidade utilizada por redes criminosas e a utilização de civis como bucha de canhão na sua jornada por poder e controle sob o comércio de drogas. A continuação do uso de violência pelo crime organizado permanecerá em países como México, El Salvador, Honduras e o Caribe.
Contudo, há uma esperança de um panorama mais otimista na região. A Anistia Internacional acredita que a voz dos defensores dos direitos humanos das Américas continuará a crescer na sua campanha para os direitos daqueles mais vulneráveis a abusos, como mulheres e meninas, o povo indígena, afrodescendentes e comunidades rurais. Continuarão a cobrar do seu governo, espalhando a palavra através de novas tecnologias e redes sociais para auxiliar os sofisticados modos de organização.
Repostas Draconianas
A Anistia Internacional insta aos governos que garantam que suas respostas a ameaças de segurança não minem os direitos humanos fundamentais ou criem mais violência.
Muitos governos em 2014 tiveram reações a questões de segurança com táticas draconianas e repressivas, incluindo:
• Violência nos protestos no Brasil, Venezuela e EUA, entre outros.
• Monitoramento da Agência Nacional de Segurança dos EUA, com tentáculos em todo mundo.
• Repressão contínua de “delatores” como Chelsea Manning e Edward Snowden.
• Enquanto isso, novos detalhes vem à tona sobre a brutalidade dos métodos de tortura da CIA na Baía de Guantanamo e outras áreas de detenção no mundo.
“Estamos vendo sinais preocupantes de que os líderes continuarão a agir com violência a protestos, introduzindo leis antiterror e usar de técnicas de vigilância em massa em resposta a ameaças de segurança. Mas reações instintivas não funcionam. Em vez disso, cria-se um ambiente de repressão em que o extremismo pode prosperar”, afirma Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional.
Refugiados
Uma trágica consequência da inabilidade da comunidade internacional em lidar com as mudanças no conflito é uma das piores crises de refugiados que o mundo já viu, já que milhões de pessoas – incluindo 4 milhões, somente da Síria – continuam a fugir da violência e da perseguição.
Na Colômbia, em torno de 6 milhões de pessoas permanecem deslocadas devido ao conflito interno. Milhões estão tentando agora reivindicar suas terras e a Anistia Internacional está fazendo campanha para o governo facilitar o processo.
“Os líderes têm poder para aliviar o sofrimento de milhões de pessoas – a partir do comprometimento de recursos políticos e financeiros, para ajudar e proteger aqueles que fogem do perigo, fornecendo de ajuda humanitária generosa e reassentamento dos mais vulneráveis, defende Shetty.”
Saiba mais
Leia o relatório 2014/2015 – O Estado dos Direitos Humanos no Mundo.
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