A morte de pelo menos outros 10 refugiados e migrantes no Mediterrâneo demonstra a forma como os governos europeus continuam não proporcionando recursos adequados para uma operação coordenada de busca e resgate que poderia salvar incontáveis vítimas, declarou a Anistia Internacional.

“Mais uma vez, as marinhas mercantes e as guarda-costeiras nacionais responderam valorosamente ao imenso e crescente desafio de salvar a vida de migrantes, refugiados e solicitantes de asilo vulneráveis nas costas meridionais da Europa”, disse Gauri van Gulik, diretora-adjunta do Programa para a Europa e Ásia Central da Anistia Internacional.

“Mas isso está longe de ser suficiente, tendo em conta esta crise humanitária cada vez mais grave. Sem uma operação europeia de busca e resgate, o enfoque da União Europeia parece cada vez mais desorganizado e negligente”.

A angústia de quase mil pessoas refugiadas e migrantes

No dia 3 de março, num período de 24 horas, oito operações diferentes de busca e resgate no estreito da Sicília salvaram a vida de pelo menos 941 migrantes. Em um dos casos, uma embarcação virou quando os refugiados – entre os quais, segundo a guarda costeira italiana, havia muitos sírios – avistaram um rebocador e se agruparam em um lado da embarcação. Embora 121 pessoas tenham sido resgatadas, 10 corpos foram recuperados.

Os pedidos de socorro mais recentes foram recebidos de aproximadamente 50 milhas náuticas (92 km) ao norte da Líbia, muito além das águas patrulhadas pela operação Triton, realizada pela UE para a gestão de fronteiras. Ao pedido de socorro responderam navios mercantes e também as guardas costeiras italiana e tunisiana. Ainda participou um barco da operação Triton para ajudar nos esforços nacionais.

O sentido de urgência da UE

Em uma coletiva de imprensa ocorrida no dia 4 de março, em Bruxelas, a Comissão Europeia declarou que a UE necessita de um “sentido de urgência” coletivo a respeito de sua resposta à migração na Europa.

Está prevista para maio, a publicação de uma nova Agenda Europeia de Migração, que incluirá o aumento de rotas seguras e legais de migração para a Europa. No entanto, não se espera que esta agenda prepare o caminho para uma missão coordenada de busca e resgate para responder ao crescente número de mortes no mar.

A Anistia Internacional pediu reiteradamente uma missão de busca e resgate de toda a UE que tenha ao menos o mesmo mandato e os mesmos recursos que a operação Mare Nostrum, que salvou mais de 170.000 vidas antes de ser cancelada no final do ano passado.

“A Comissão Europeia reconheceu publicamente que a operação Triton não substitui a operação Mare Nostrum empreendida pela Itália. Sem dúvida, a implementação de um sentido de urgência deveria incluir a eliminação de todos os obstáculos para preencher o vazio deixado pelo cancelamento desta operação fundamental de busca e resgate”, declarou Iverna McGowan, diretora em exercício do Escritório da Anistia Internacional ante as Instituições Europeias.

Outros órgãos internacionais fizeram eco a esta solicitação. Em um comunicado à imprensa divulgado na véspera de uma reunião chave da Organização Marítima Internacional, da ONU, que foi realizada na última quarta-feira, em Londres, a Câmara Internacional da Marinha Mercante (ICS) pediu aos Estados membros da UE para que “atuem com urgência para evitar a perda de milhares de outras vidas”.