HISTÓRIAS

Verónica Razo, cinco anos presa esperando julgamento

Verónica Razo tem 37 anos e dois filhos, e foi capturada por homens à paisana em uma rua próxima à sua casa, no centro da Cidade do México, em 8 de junho de 2011.

Os homens levaram-na até um armazém da polícia federal, onde ela foi mantida por 24 horas e torturada.

Ela foi golpeada, asfixiada, recebeu choques elétricos e foi estuprada diversas vezes por agentes da polícia. Ela foi ameaçada e forçada a assinar uma “confissão”. Após o interrogatório feito pela polícia e pelos advogados de acusação, ela desmaiou e foi levada para o hospital, onde recebeu tratamento para graves palpitações cardíacas.

A polícia afirma ter prendido Verónica no dia seguinte, acusando-a de fazer parte de um esquema de sequestro. No entanto, na noite em que ela foi presa, sua mãe registrou seu desaparecimento junto a autoridades locais.

Dois anos após ter sido presa, os psicólogos da Procuradoria-Geral do México confirmaram que Verónica apresentava sintomas compatíveis com tortura. Ela passou cinco anos na prisão aguardando julgamento. A filha de Verónica tinha apenas seis anos quando Verónica foi presa, e o seu filho, 12. Ele, agora com 18 anos, não pode ir para a faculdade devido às dificuldades financeiras vividas pela família desde a prisão da mãe. A mãe de Verónica teve que sair de casa e vender sua loja devido às dificuldades no acompanhamento da filha.

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Tailyn Wang: Aborto na sala da Procuradoria depois de espancamento policial

Tailyn Wang estava grávida de aproximadamente sete semanas quando sua casa foi invadida por agentes da polícia federal, em fevereiro de 2014, e ela foi levada até instalações da polícia sem um mandado de prisão.

Depois de ter sofrido espancamentos e abuso sexual por agentes da polícia federal durante horas, Taylin sofreu um aborto dentro do escritório da Procuradoria-Geral da República, na Cidade do México.

Dois médicos do estado fizeram um exame clínico enquanto ela estava sob custódia e, apesar de suas queixas, o primeiro médico não a examinou adequadamente e ignorou suas queixas de que havia sido brutalmente espancada. Nenhum dos dois médicos relatou as alegações de tortura e maus tratos.

Ela não recebeu nenhum medicamento para a dor, apenas algumas folhas de papel toalha para colocar dentro das calças antes de ser algemada e colocada em um avião comercial rumo à prisão federal. Quando o avião pousou em Tepic, no noroeste do México, o assento estava encharcado de sangue.

Tailyn disse aos oficiais que tinha sofrido um aborto, mas eles só gritavam com ela. Foi somente quando já estava dentro da prisão, mais de quatro dias depois de ter sido presa, que Tailyn ficou sabendo que havia sido presa por integrar uma gangue de sequestradores e acusada de crime organizado. Ela sangrou por mais cinco dias na prisão sem receber assistência médica adequada. Tailyn continua na prisão aguardando julgamento. Apesar de ter denunciado a tortura que sofreu há mais de dois anos, ela ainda está esperando para ser examinada por um médico forense que registre os maus tratos que sofreu.

Maria Magdalena Saavedra: Classificada como “fisicamente saudável” pelo médico da marinha depois de ter sido estuprada

Magdalena foi capturada de sua casa em San Luis Potosí por oficiais da marinha armados, em 10 de maio de 2013. Os oficiais invadiram seu quarto gritando perguntas enquanto batiam nela. Eles acusavam-na de ser a tesoureira de uma importante quadrilha de venda de drogas.

Eles cobriram sua cabeça com uma sacola até que ela sufocasse e desmaiasse. Então, eles a colocaram em uma van e continuaram a espancá-la e a estuprá-la com objetos. Então, Magdalena foi levada para um prédio parecido com uma delegacia, onde recebeu choques elétricos na genitália e na boca. Eles conseguiram o endereço da filha de Magdalena nos seus pertences, e passaram a ameaçá-la. A tortura executada pelos oficiais da marinha durou 20 horas.

Magdalena foi então levada para as instalações da Procuradoria e forçada a assinar uma “confissão” com suas impressões digitais. A caminho da Procuradoria-Geral da República, um oficial da marinha ficou ao seu lado e continuou a golpeá-la. Já na Procuradoria, ela foi apresentada pela marinha como uma criminosa para a mídia e para a polícia.

O médico da marinha, depois de realizar um exame médico após a prisão, escreveu uma observação dizendo: “a detenta está ‘fisicamente saudável'”. Na primeira audiência com um juiz, dois dias depois, a descrição que o juiz fez de Magdalena era muito diferente daquela documentada pela marinha: “a suspeita está soluçando, com tensão, depressão e ansiedade aparentes”. Quando a Anistia Internacional entrevistou Magdalena, no início de 2016, mais de três anos depois da sua prisão, ela ainda tinha cicatrizes visíveis e sinais claros de trauma. Magdalena continua na prisão aguardando julgamento.

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Denise Blanco e Korina Utrera, humilhadas por serem lésbicas e estupradas pela marinha

No dia 27 de agosto de 2011, Korina de Jesús Utrera Domínguez, de 25 anos, e Denise Francisca Blanco Lovato, sua namorada, estavam na casa de Korina em Tabasco, no sul do México, quando oficiais da marinha com uniformes camuflados invadiram sua casa e começaram a espancá-las e a gritar com elas. Ambas estavam vendadas e foram levadas sem mandado para uma base da marinha. Lá, elas foram estupradas e submetidas à asfixia e a choques elétricos. De acordo com Korina, um dos agentes tentou colocar o pênis na sua boca e gritou “Vamos sua piranha, experimente”. Quando os oficiais forçaram-nas a comer comida do chão, um deles gritou: “Parem! Elas vão nos processar!” Denise também foi estuprada por oficiais que colocaram os dedos com luvas na sua vagina para aplicar choques elétricos. Denise contou à Anistia Internacional que os oficiais da marinha gritaram “Suas putas lésbicas”.

Quando, mais de 30 horas depois de terem sido presas, elas foram finalmente levadas à presença de um advogado público no estado vizinho de Veracruz, Korina foi pressionada para que assinasse uma “confissão” admitindo envolvimento no crime organizado e em delitos relacionados a drogas. Denise foi acusada dos mesmos crimes. Korina disse à Anistia Internacional que quando contou ao médico da marinha o que os oficiais haviam feito, ele respondeu: “cala a boca, piranha, não fala merda”.

As duas relataram as torturas sofridas frente a um juiz, mas suas alegações foram ignoradas por um desembargador. A Procuradoria-Geral da República do México abriu uma investigação sobre a tortura supostamente executada pelos oficiais da marinha e, quatro anos depois, os médicos forenses examinaram as mulheres. Um ano depois do exame, Denise e Korina ainda não sabem quais foram os resultados. Quando esta matéria foi escrita, ambas permaneciam na prisão aguardando julgamento. Nenhum oficial foi indiciado no caso.

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Sobreviver a morte : tortura de mulheres por policiais e forças armadas no México