O governo peruano não está atendendo a saúde de centenas de pessoas indígenas cujas únicas fontes de água estão contaminadas com metais tóxicos e que sofrem com a falta de acesso a uma saúde adequada, foi o que informou a Anistia Internacional em seu novo relatório “Estado Tóxico” publicado hoje.

Conny Llerena Trujillo, uma mulher de Cuninico (Peru), contou que seu bebê de três meses, nascido em 2014, começou a sofrer urticária depois que tomou banho a primeira vez no rio. As análises médicas confirmaram que o bebê tinha chumbo em seu sangue, assim como 65% das pessoas que fizeram o mesmo exame de exposição ao chumbo em Cuninico.

As pessoas que vivem na região estão recorrendo agora, a água da chuva para consumo doméstico, porém, quando as chuvas são insuficientes, acabam por beber agua contaminada do rio. O governo ainda não determinou as causas da contaminação. O centro de saúde mais próximo de Cuninico fica a uma hora e meia de distância, isso utilizando-se uma lancha com motor, e ainda assim não conta com os especialistas para atender as necessidades da população local contaminada com metais tóxicos.

Um estudo realizado em 2014, pela Direção Regional de Saúde Peruana (DIRESA) revelou que os níveis de alumínio e hidrocarbonetos totais do petróleo encontrados na água de Cuninico superavam o permitido para consumo humano. Em 2017 foram realizadas outras análises da água, mas seus resultados ainda não foram publicados. Ainda que o governo tenha declarado uma emergência de saúde pública na região em 2017, não foram tomadas medidas reais para proporcionar atenção médica às comunidades e investigar a contaminação da água, o que inclui investigar a fonte da contaminação.

Assine e exija que o governo peruano dê fim à violação do direito à saúde em Cuninico e Espinar!

O relatório ‘Estado Tóxico’ revela que o governo peruano se omitiu do dever de proporcionar atenção médica adequada aos povos indígenas de Cuninico e Espinar, nas regiões amazônica e andina do país, respectivamente.

“Durante décadas, os povos indígenas do Peru foram tratados como cidadãos de segunda categoria” aponta Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional. “O fato das autoridades peruanas optarem por não fazer quase nada diante das evidências de que centenas de pessoas indígenas tenham sido expostas a metais tóxicos no solo, é cruel, além de constituir uma violação do direito à saúde”.

Na província de Espinar, na região andina do país, a situação é igualmente preocupante. Os estudos realizados pelas autoridades peruanas concluíram que várias comunidades inteiras de Espinar estão expostas a metais pesados e outras substâncias químicas, e que suas únicas fontes de água estão contaminadas. As mulheres que vivem em Espinar (Peru), se queixam de constantes enxaquecas, dores de estômago, diarreia, irritação dos olhos, problemas respiratórios e renais. Carmen Catalina Chambi Surco contou a Anistia Internacional que quatro, dos seus seis filhos estão doentes. Um deles nasceu com um ouvido bloqueado e seu outro filho precisou tirar um cisto do pulmão. Carmen sofre dores crônicas nos pulmões, perdeu a audição de um dos ouvidos e foi operada para retirar pedras de seu fígado.

A exposição prolongada a esses metais tóxicos provoca uma série de problemas de saúde crónicos, como perda de memória, infertilidade, perda de visão, diabetes, doenças hepáticas, falência renal e câncer. O Estado peruano falhou por completo em seu dever de proteger os povos indígenas de Espinar e garantir seu direito à saúde.

“Ao fechar os olhos diante da desesperada situação dos povos indígenas, as autoridades estão colocando em perigo a saúde e a vida dessas pessoas. As autoridades devem garantir que a população de Cuninico e Espinar tenham acesso a agua não contaminada e que as causas da contaminação sejam esclarecidas e investigadas” afirmou Salil Shetty.

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Assista ao vídeo do lançamento do relatório

Saiba mais:

Leia o relatório “Peru: Estado tóxico: violações de direito à saúde dos povos indígenas em Cuninico e Espinar”