Em 27 de junho de 2007, uma mega operação envolvendo a Polícia Militar e a Força Nacional de Segurança resultou em 19 pessoas mortas e dezenas de outras feridas no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro. O episódio ficou conhecido como “A Chacina do Pan”, em referência aos Jogos Pan-Americanos que aconteceriam na cidade e evento que motivou a megaoperação de policial. Perícias independentes realizadas posteriormente revelaram que várias dessas mortes foram execuções extrajudiciais. Dez anos depois, quase nada mudou na rotina de abusos, violações de direitos e alta letalidade nas operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro. Em 2016, 920 pessoas foram mortas pela polícia no estado. A grande maioria dos casos não é investigada e o registro de “homicídio decorrente de oposição à intervenção policial” continua sendo usado como uma “cortina de fumaça” para execuções extrajudiciais.

Na última década, além dos Jogos Pan-Americanos, o Rio de Janeiro sediou ainda jogos da Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Antes da Rio 2016, a Anistia Internacional alertou para o risco de repetições de violações de direitos pelas forças de segurança no contexto de megaeventos esportivos com a campanha A violência não faz parte desse jogo e documentou as violações que aconteceram e o Legado de Violência deixado pelos Jogos.

Em 2017, dez anos depois da “Chacina do Pan”, o Complexo do Alemão ainda vive sob uma rotina de graves violações de direitos e abusos cometidos pela polícia. Além de inúmeras pessoas mortas em operações policiais, no início deste ano alguns moradores tiveram suas casas invadidas por policiais que as ocuparam permanentemente. Apesar de decisão judicial determinando a desocupação das casas, a polícia militar seguiu dentro das casas por várias semanas em flagrante violação dos direitos dos moradores.

Nestes dez anos, muitas outras pessoas foram mortas pela polícia no Complexo do Alemão. Uma delas foi o menino Eduardo de Jesus, de apenas 10 anos de idade, morto por policial militares no dia 02 de abril de 2015. O caso está documentado no relatório Você matou meu filho.

“Essa polícia que invade casas, agride e ameaça moradores, mata pessoas, tem que acabar. Isso não é política de segurança pública. Isso é uma rotina de violência perpetrada por agentes do estado que violam direitos fundamentais dos moradores do Complexo do Alemão. Falta vontade política das altas autoridades do estado do Rio de Janeiro para acabar com esse padrão de violações que marcam a atuação da polícia nas favelas do Rio. Todos nós devemos nos mobilizar para denunciar esses abusos e cobrar das autoridades uma política de segurança pública que seja baseada na proteção e no respeito à vida de todas as pessoas”, afirma Renata Neder, coordenadora de pesquisa e políticas da Anistia Internacional Brasil.