O último projeto de uma plataforma revolucionária de crowdsourcing envolverá milhares de voluntários digitais para ajudar a Anistia Internacional a garantir justiça às comunidades devastadas pelo derramamento de petróleo no Delta do Níger.

Os apoiadores da Anistia Internacional de todo o mundo podem participar do projeto Decode Oil Spills, que tem como objetivo assegurar que empresas petrolíferas como a Shell e a ENI prestem contas sobre os danos ambientais que causaram na região. Ao analisar os dados sobre derrames de petróleo, os decodificadores ajudarão a expor afirmações falsas por companhias de petróleo e fortalecerão as comunidades locais para exigir uma limpeza adequada e uma compensação.

“O Delta do Níger é um dos lugares mais poluídos da terra. Durante muito tempo as ricas companhias de petróleo se esquivaram da justiça pela devastação total que causaram à terra, à água do Delta e aos meios de subsistência de centenas de milhares de pessoas na região. A Shell confiou em afirmações claramente falsas para evitar a prestação de contas; mas com a ajuda de ativistas digitais de todo o mundo, estamos determinados a descobrir a verdade”, disse Milena Marin, Encarregada Sênior de Inovação de Campanhas da Anistia Internacional.

“O projeto Decode Oil Spills significa que qualquer pessoa com um telefone celular ou laptop pode contribuir para pesquisas fundamentais sobre abusos de direitos humanos e marca um novo capítulo na forma como as pessoas podem responsabilizar as empresas”.

Centenas de derramamentos de óleo ocorrem no Delta do Níger todos os anos e raramente são limpos adequadamente. Décadas de poluição ligadas à indústria do petróleo destruíram os meios de subsistência das pessoas, prejudicaram seus direitos à água potável e alimentos, colocando sua saúde em risco.

Desde 2007, mais de 1.700 derramamentos de petróleo da Shell vêm acontecendo em operações no Delta do Níger. A empresa italiana de petróleo ENI faz operações menores do que a Shell na região, mas reportou ainda mais derramamentos – mais de 3.000 desde 2007.

Há uma grande quantidade de dados publicamente disponíveis sobre os derramamentos de petróleo nigerianos datados desde 2011 – enorme quantidade para os pesquisadores da Anistia analisarem sozinhos. Muitas dessas informações estão disponíveis apenas em documentos escaneados e manuscritos, impossibilitando a obtenção de informações em escala. Além disso, a experiência passada mostrou que a Shell fez declarações falsas relacionadas aos derrames. Eles alegaram, por exemplo, que os derramamentos foram causados ​​por ladrões de petróleo ou sabotadores de gasodutos quando, na verdade, ocorreram devido a tubos corroídos. A empresa utiliza dessa estratégia para pagar menos compensações ou evitar a limpeza da poluição.

É aí que os decodificadores entram. A Anistia Internacional está convidando voluntários digitais para ajudar a determinar a causa e a localização dos derrames de petróleo, analisando fotos e documentos através do seu smartphone, tablet ou laptop, para que a organização possa ajudar a responsabilizar as empresas. Em média, os decodificadores gastam menos de um minuto por tarefa.

Com a plataforma Decoders, a Anistia começou a construir uma comunidade de dezenas de milhares de ativistas digitais capazes de trabalhar com grandes volumes de informações “desordenadas” e transformá-las em evidências estruturadas de violações dos direitos humanos.

Desde o lançamento da plataforma Decoders, em junho de 2016, a organização completou com sucesso três projetos que mobilizaram 45 mil voluntários digitais de 150 países para apoiar sua pesquisa.

 

Plano de fundo

A ferramenta usada na plataforma Decode Oil Spills possui um mecanismo de verificação incorporado, o que significa que cada imagem será mostrada a vários decodificadores diferentes e será tratada como verificada quando concordarem sobre o que viram. Os pesquisadores da Anistia também farão checagens aleatórias sobre os dados para garantir sua qualidade e veracidade.

Em 28 de junho, foi lançado um caso contra a Shell nos Países Baixos, acusando-a de cumplicidade na prisão, detenção e execução ilegais de nove homens que foram enforcados pelo governo militar da Nigéria na década de 1990.