O anúncio do governo da Bolívia de retomar o projeto para a criação de uma Comissão da Verdade sobre os crimes cometidos durante os governos militares no país (1964-82,) deve ser um primeiro passo no longo caminho para garantir justiça e reparação para todas as vítimas, declarou a Anistia Internacional.

“Este compromisso com a verdade representa um avanço diante da grande dívida que a Bolívia tem com as centenas de vítimas de torturas, detenções arbitrárias e desaparecimentos forçados que ocorreram durante os anos mais obscuros do país. Para que haja justiça deve haver verdade”, disse María José Eva, pesquisadora da Anistia Internacional para a América do Sul.

“Agora, as autoridades devem se assegurar que os que ordenaram e cometeram essas violações dos direitos humanos sejam levados à justiça e que as vítimas recebem reparações integrais. Nem elas nem a sociedade em seu conjunto merecem nada menos do que isso.”

Após uma audiência ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em Washington no último dia 19 de março, o Subprocurador de Defesa e Representação Legal da Bolívia anunciou a formação de uma comissão interinstitucional com o fim de desenvolver um projeto de lei que crie uma comissão da verdade, com a participação da sociedade civil.

Segundo dados de organizações de direitos humanos locais, milhares de pessoas foram detidas arbitrariamente e torturadas durante os sucessivos governos militares na Bolívia entre 1964 e 1982.

Calcula-se, também, que ao menos 150 pessoas foram vítimas de desaparecimento forçado.

Outras 40 pessoas foram detidas em outros países da região e posteriormente desapareceram no contexto do Plano Condor, um plano coordenado pelas cúpulas de vários regimes ditatoriais da América Latina com a finalidade de eliminar opositores e dissidentes durante a década de setenta.