A falha em proteger centenas de milhares de civis na Nigéria poderá resultar numa desastrosa crise humanitária, alerta a Anistia Internacional na sequência dos relatos de dois ataques brutais do grupo armado Boko Haram contra a cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, e a vila de Monguno, ambas no nordeste do país.
“Estes repetidos ataques do Boko Haram são notícias muito duras e significativas. Cremos que centenas de milhares de civis se encontrem neste momento em risco muito sério”, frisa o diretor do Programa África da Anistia Internacional, Netsanet Belay. “As pessoas em Maiduguri e nos arredores da cidade precisam de proteção urgente. E se o Exército não conseguir parar os avanços do Boko Haram, estes civis podem ficar encurralados, sem terem por onde fugir”, prossegue o perito.
A Anistia Internacional recebeu relatos de que pelas 6h da manhã deste domingo, 25 de janeiro, combatentes armados atacaram a base da brigada 33 de Artilharia do Exército nigeriano situada em Jintilo, uma vila a seis quilómetros de Maiduguri. Há testemunhos de que os confrontos se expandiram até à base aérea que fica ainda mais próxima da capital do estado de Borno.
O exército nigeriano, com o apoio da Força Aérea, respondeu a estas investidas do Boko Haram com ataques aéreos e moveu tanques e tropas para a área.
Há relatos da população civil ter escapado das hostilidades em toda a região em volta de Jintilo, tomando a direção do centro de Maiduguri. Porém, nem todos os civis conseguiram fugir das frentes de combate.
“Um dos habitantes descreveu-nos que se Maiduguri for atacada não vão ter por onde escapar, pois a Estrada de Kano é a única via de saída”, explicou Netsanet Belay. “Todas as partes envolvidas neste conflito têm de garantir que os civis que pretendam sair de Maiduguri possam fazê-lo de fato. Para que os civis se possam escapar dos combates em Maiduguri, as operações militares não podem de forma nenhuma ter lugar na principal via de acesso, a Estrada de Kano”.
A Anistia Internacional insta também todas as partes no conflito a absterem-se de levar a cabo operações militares nas proximidades dos hospitais de Maiduguri e quaisquer outras estruturas clínicas.
“O Governo tem de garantir que a proteção dos civis está no cerne das operações neste momento difícil. Há centenas de milhares de pessoas em Maiduguri. Dezenas de milhares de civis já fugiram para aquela cidade, oriundos de outras vilas e aldeias atacadas e que caíram sob controle do Boko Haram, e que agora vivem em acampamentos improvisados na capital de Borno. A falha do governo em proteger os residentes de Maiduguri neste momento pode conduzir a uma crise humanitária de proporções desastrosas”, remata o perito da Anistia Internacional.
Esta mesma semana, a partir de quinta-feira (29) começa a cimeira do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, com os chefes de Estado a reunirem-se com uma agenda em que será discutida a possível formação de uma força regional de combate ao Boko Haram.
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