Não importa quão duros sejam os tempos, apostamos na esperança e nas possibilidades de construção de outro mundo possível. Esse espírito move nossa comunidade ativista, sempre disposta a colaborar na partilha de ideias para fortalecimento de uma sociedade que garanta direitos para todas as pessoas. Foi assim que o grupo local de ativismo do Rio de Janeiro atendeu ao convite para realização de uma atividade em uma escola de Ensino Médio da região metropolitana do estado.

O momento desafiador de tensões políticas, retóricas contra direitos humanos e outras adversidades enfrentadas por defensores e defensoras de direitos não foram obstáculos para que o chamado fosse atendido, com todos os cuidados que ações em nosso atual contexto exigem. Suiá, ativista responsável pela oficina realizada nos contou um pouco da experiência. Leia abaixo:

“Em setembro, o grupo de ativismo do Rio de Janeiro recebeu um chamado de ação do escritório da Anistia Internacional Brasil para a realização de uma oficina de Educação em Direitos Humanos a ser realizada em uma escola de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Após marcarmos a data e eu me oferecer para realizar a ação, percebi o que viria a acontecer: a ação aconteceria no mês das eleições, em outubro.

A princípio, pensei que isso não seria uma questão, pois achei que os alunos não tocariam nesse tema com um convidado. Mas, ao chegar na escola, o professor que me recebeu rapidamente entrou no assunto. Disse que, apesar de a maioria dos alunos apoiarem um candidato que não valorizava os DH, eles eram bastante engajados. Esse paradoxo não é incomum, então não fiquei surpresa. Mas percebi que devia me preparar para que o assunto surgisse durante as dinâmicas, já que acabei chegando na escola na semana da eleição!

Os ânimos em todo o país estavam exaltados e as escolas, que não são espaços isolados da sociedade, obviamente refletem o contexto em que estão inseridas. E sim, o assunto veio à tona logo na primeira metade do encontro. O exercício pedia que os participantes lembrassem nomes de pessoas que fossem defensoras de DH. Um aluno resolveu citar o nome de um candidato e outro prontamente respondeu com o nome de outro.

Em vez de dizer “não”, apenas resolvi deixar a responsabilidade de um consenso para os próprios alunos, pedindo que eles pensassem sobre se este ou aquele realmente prezava os DH. Além disso, disse ao grupo que a lista era uma produção em conjunto e deles, não minha. Assim, a parte que citou o segundo candidato admitiu que ele não era um exemplo sobre respeito aos DH e a outra parte decidiu retirar o nome do seu candidato em um aceno de paz ao outro grupo.

Como lidar com 32 adolescentes, que por si só já são enérgicos, e ainda mais empolgados com os acontecimentos sociais do seu tempo? Sem defender determinado candidato ou atacar outro, reforcei a posição da Anistia Internacional Brasil em defender os direitos de todos. E que direitos humanos não são uma pauta de determinado candidato, partido, ou orientação política. Direitos humanos são de todos e todas e para absolutamente todos e todas. Quando finalmente entraram em acordo, acho que eles entenderam como se faz política e como se defende direitos”.

Mais Publicaçõess