O bombardeio e destruição do hospital do Médicos Sem Fronteiras no norte do Iêmen na noite de ontem, pode constituir um crime de guerra e demanda uma investigação urgente, independente e completa.

De acordo com fontes do local, por volta das 23h30 no dia 26 de outubro as forças da coalizão liderada pela Arábia Saudita supostamente realizaram seis ataques aéreos consecutivos no Hospital Haydan, no distrito de Haydan, província de Sa’da. Mais de 20 pessoas estavam dentro do hospital no momento do ataque, incluindo três pacientes, vários médicos e outros membros da organização. Sete funcionários foram feridos, mas não puderam ser transferidos para outro hospital a 60 quilômetros de distância em Sa’da até às 7h devido a temores de novos ataques.

“O ataque ao Hospital Haydan parece ter sido ilegítimo, causando dano a civis e suas propriedades. Os ataques mostram deliberadamente a escolha da unidade hospitalar como alvo – este é outro triste dias para civis”, disse Philip Luther, diretor para Oriente Médio e Norte da África da Anistia Internacional.

Hospitais e unidades médicas devem ser respeitadas e protegidas em todas as circunstâncias – eles só perdem a sua proteção contra ataques se são usados com propósitos militares – e a destruição desta significa a perda de tratamento humanitário vital para civis de quatro províncias no norte do Iêmen.”

Funcionários do MSF confirmaram o ataque. De três a quatro outros ataques foram relatados, com intervalos de cinco minutos entre eles. De acordo com Hassan Boucenine, chefe da missão no Iêmen nos MSF, a coalizão liderada pela Arábia Saudita tem todas as coordenadas dos Hospitais dos Médicos Sem Fronteiras no Iêmen, incluindo o Hospital Haydan.

De acordo com o diretor do Hospital, Dr Ali al-Mughli, a unidade está completamente destruída, com exceção das salas de armazenamento. Ele disse que embora o hospital recebesse frequentemente combatentes feridos, não havia nenhuma atividade militar no hospital no momento do ataque. Dr Ali disse também que houve um atraso para leva-los para o hospital da cidade al-Jamhouri porque os ataques aéreos estavam usando comboio de pessoas como alvo, o que significa que nem mesmo ambulâncias eram seguras. O hospital também perdeu 60 litros de gasolina e 1.000 litros de diesel no ataque, uma enorme perda em um momento em que a oferta de combustível são escassos.

Este não é o primeiro ataque em um hospital em Sa’da desde a intervenção militar da coalizão liderada pela Arábia Saudita no Iêmen que começou em março do ano passado. Em 4 de setembro de 2015, a coalizão teria bombardeado o Hospital al-Sh’ara em Razih, no oeste da província de Sa’da, resultando na morte de seis pacientes e em ferimentos em outros seis funcionários do MSF que visitaram o local depois que foi dito que não havia evidência de que o hospital estava sendo usado para quaisquer fins militares.

“Apelamos para todas as partes no conflito que respeitem e protejam profissionais e unidades médicas e tomem todas as precauções para proteger civis em meio ao conflito. Deve haver uma investigação independente sobre por que hospitais e pacientes estão sendo alvo, em vez de protegidos, como a lei humanitária internacional exige”, disse Philip Luther.