A libertação de uma ativista palestina presa pelos militares de Israel por empurrar, dar tapas e chutar dois soldados fortemente armados vestindo roupas de proteção é uma notícia bem-vinda, mas serve como um lembrete das persistentes violações de direitos humanos contra crianças palestinas, disse a Anistia Internacional.

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Ahed Tamimi, de dezessete anos, foi libertada hoje, faltando 21 dias para completar uma sentença de oito meses de prisão após a sua injusta detenção por parte do tribunal militar de Ofer, assentamento israelense localizado na Cisjordânia.

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“Este é um grande alívio para os entes queridos de Ahed Tamimi, mas a alegria é relativa já que sua prisão foi injusta e muitas crianças palestinas seguem em prisões israelenses mesmo não sendo possível identificar nenhum crime cometido por elas”, disse Saleh Hijazi, chefe do escritório em Jerusalém da Anistia Internacional.

“A libertação de Ahed Tamimi não pode esconder a contínua prática de militares israelenses de usar políticas discriminatórias para prender crianças palestinas. Sua prisão injusta demonstra como a ocupação israelense usa os tribunais militares de forma arbitrária para punir aqueles que desafiam a ocupação e as políticas de expansão de assentamentos ilegais, sem qualquer consideração etária”.

“Centenas de crianças palestinas continuam a enfrentar as duras condições e abusos do sistema penitenciário israelense, que desrespeitam os princípios dos direitos da criança e os padrões para o tratamento de prisioneiros”, disse Saleh Hijazi.

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Ahed Tamimi foi condenada por incitação, agressão e obstrução de soldados israelenses. Um vídeo mostrando seu empurrão, tapa e chute a dois soldados israelenses, em sua aldeia natal de Nabi Saleh, em 15 de dezembro de 2017, viralizou no Facebook.

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Ela foi presa em 19 de dezembro de 2017, depois que sua mãe, Nariman Tamimi, uma importante ativista das causas palestinas, postou as imagens de sua briga com soldados israelense. Nariman também foi presa e libertada hoje, após ser condenada a oito meses por acusações semelhantes a de sua filha.

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O pai de Ahed Tamimi, Bassam Tamimi, disse à Anistia Internacional que apesar da alegria em receber Ahed e Nariman de volta para casa, ele ainda estava preocupado com seu filho, Wa’ed, preso desde em maio. O jovem de 22 anos foi detido na prisão militar de Ofer com acusações relacionadas ao seu ativismo contra a ocupação israelense.

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“Meu filho continua em uma prisão israelense durante todo o processo do tribunal militar contra ele. É um lembrete de que a ocupação de Israel está sempre buscando nos punir porque nossa existência contradiz a existência da ocupação. Por isso, peço aos membros da comunidade internacional que tenham responsabilidade para com o nosso povo e tomem medidas concretas para acabar com essa injustiça”, disse Bassam Tamimi.

“Este é um dia de alívio e esperamos que se transforme em felicidade definitiva quando esta ocupação militar brutal acabar de uma vez por todas”.

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O vídeo filmado por Nariman Tamimi mostra que os soldados, que estavam de pé armados com fuzis em frente ao pátio da família, foram capazes de se afastar facilmente dos tapas e chutes de Ahed Tamimi.

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“Ahed Tamimi foi solta, mas só depois de cumprir uma sentença injusta baseada na premissa ridícula de que ela representava uma ameaça para soldados armados e fortemente protegidos”, disse Saleh Higazi.

“A realidade é que ela foi presa em uma tentativa flagrante das autoridades israelenses de intimidar aqueles que ousam desafiar a brutal repressão das forças de ocupação”.

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O exército israelense processa centenas de crianças palestinas em tribunais militares todos os anos, muitas vezes após prendê-las em ataques noturnos e submetê-las sistematicamente a maus-tratos, incluindo ameaças, interrogatórios sem a presença de seus advogados ou familiares, confinamento em solitárias e, em alguns casos, de violência física.

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Os tribunais militares processam os palestinos por violarem ordens militares, muitas das quais criminalizam atividades pacíficas como expressão política ou organização e participação em protestos sem a permissão prévia de um comandante militar israelense.

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Atualmente, existem cerca de 350 crianças palestinas em prisões e centros de detenção israelenses, de acordo com organizações locais de direitos humanos.

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“Enquanto a liberdade de Ahed é bem-vinda e há muito esperada, ela deve ser seguida pela libertação das outras crianças presas ilegalmente pelos tribunais militares israelenses”, disse Saleh Hijazi.

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Contexto

Ahed Tamimi confrontou os soldados em meio a uma manifestação na pequena aldeia de Nabi Saleh contra a decisão do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

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O incidente ocorreu no mesmo dia em que um dos primos de Ahed, Mohammad Tamimi, de 15 anos, sofreu ferimentos graves depois de ser atingido na cabeça a curta distância por uma bala de borracha disparada por um soldado israelense.

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A aldeia de Nabi Saleh, localizada a noroeste de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, é palco, desde 2009, de protestos semanais contra a ocupação militar israelense, o confisco de terras e a perda da fonte de água da comunidade.

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O exército israelense rotineiramente usa força excessiva contra manifestantes e transeuntes e, em muitos casos, danifica propriedades. Desde 2009, três moradores de Nabi Saleh foram mortos por soldados israelenses e outros sofreram ferimentos causados por munição real, balas de metal revestidas de borracha e gás lacrimogêneo.

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