O tormento em que se encontram os jornalistas da Al Jazeera Baher Mohamed e Mohamed Fahmy não pode ser esquecido por causa da deportação feita pelas autoridades egípcias de Peter Greste, também jornalista do canal de notícias, alerta a Anistia Internacional.

A organização de direitos humanos tem feito apelos para que os três jornalistas, detidos no Egito desde dezembro de 2013, sejam libertados imediatamente e de forma incondicional.

“A notícia de que foi finalmente permitido a Peter Greste sair do Egito ao fim de mais de um ano de prisão é um alívio muito bem-vindo, mas nada desfaz a aflição pela qual ele passou. É crucial que o mundo, que agora celebra a sua deportação, não esqueça o tormento em que continuam vivendo Baher Mohamed e Mohamed Fahmy, que ainda permanecem atrás das grades na prisão de Tora, no Cairo”, frisa a vice-diretora da Anistia Internacional para a região do Oriente Médio e Norte da África, Hassiba Hadj Sahraoui.

Peter Greste, de nacionalidade australiana, e Mohamed Fahmy, com dupla cidadania egípcia e canadense, requisitaram serem deportados baseados em uma nova lei egípcia que permite a transferência de cidadãos de outros países para aquele de onde são oriundos, para serem julgados ou cumprirem as sentenças que lhes foram pronunciadas em casos classificados como “de elevado interesse do Estado”. Há atualmente a expectativa de que Mohamed Fahmy seja deportado para o Canadá.

A detenção destes três jornalistas da rede de notícias com sede em Doha, capital do Qatar, gerou uma onda internacional de críticas que se manteve ao longo de mais de um ano. As condenações acabaram por ser anuladas em tribunal de recurso, em 1 de janeiro de 2014, com base em falhas nos procedimentos legais, mas todos foram mantidos em detenção aguardando a realização de novo julgamento.

Peter Greste, Baher Mohamed e Mohamed Fahmy tinham sido condenados a sete anos de prisão por reportarem “notícias falsas” e envolvimento com a Irmandade Muçulmana, movimento agora banido no Egito.

Baher Mohamed tem três filhos pequenos e não esteve presente no nascimento do mais novo, em agosto do ano passado, por estar preso.

“Estes três jornalistas foram alvos de acusações forjadas e forçados a enfrentar julgamentos que não foram mais do que farsas judiciais, processos marcados por irregularidades. Manter Baher Mohamed e Mohamed Fahmy presos é injusto e injustificável”, sustenta Hassiba Hadj Sahraoui.

A notícia da deportação de Peter Greste surgiu semanas após uma reconciliação entre as autoridades egípcias e as do Qatar, envolvidas numa amarga disputa desde a agitação política no Egito, em 2013, e que acabou por conduzir à deposição do então Presidente Mohamed Morsi.

“Tornou-se bem claro que aqueles jornalistas foram usados como peões políticos numa discussão entre as autoridades do Egito e o Governo do Qatar, que é proprietário da rede Al Jazeera. É inaceitável que tenham usado de forma tão irresponsável as vidas destes homens”, remata a vice-diretora da Anistia Internacional para a região do Oriente Médio e Norte da África.