Os principais fabricantes de carros elétricos devem dizer a verdade a seus consumidores sobre as medidas que irão tomar para manter o trabalho infantil fora de suas cadeias de fornecimento, e fazê-lo abertamente sobre quaisquer abusos que encontrarem. General Motors (GM), Renault-Nissan e Tesla ainda não fizeram qualquer divulgação sobre estas medidas.

“Carros elétricos talvez não sejam tão “ecológicos” como se poderia pensar. Os clientes precisam estar cientes de que seus carros verdes podem estar relacionados com a miséria de trabalhadores infantis na República Democrática do Congo. Será que os clientes no Paris Motor Show comprariam um carro, se soubessem que custaram a infância de alguém?”, disse Mark Dummett, Pesquisador de Negócios e Direitos Humanos da Anistia Internacional.

“A pesquisa da Anistia Internacional mostra que existe um risco significativo de o cobalto lavrado pelas crianças acabar indo para as baterias de carros elétricos. Estes veículos são apresentados como escolha ética para motoristas ambientalmente e socialmente conscienciosos, portanto as empresas que os fabricam devem dizer a verdade e provar que agiram de forma zelosa na obtenção de seus suprimentos.”

Mais da metade do cobalto do mundo, que é um componente fundamental das baterias de lítio-íon que deslocam veículos elétricos, vem da RDC, dos quais 20% são extraídos à mão.

A pesquisa da Anistia Internacional para o relatório This Is What We Die For [É por isso que nós morremos], lançado em janeiro de 2016, descobriu que adultos e crianças a partir dos sete anos trabalham em condições terríveis em áreas de mineração artesanal. Os pesquisadores descobriram que estes mineiros estão em risco de acidentes fatais e doença pulmonar grave e ganham apenas um dólar por dia.

Rede de abastecimento de carros elétricos sob investigação

Uma nova pesquisa, divulgada às vésperas do Paris Motor Show 2016 pela Anistia Internacional, identificou cinco fabricantes de carro em risco. De acordo com fontes de notícias e / ou comunicados de imprensa da empresa, o fabricante de baterias da Coreia do Sul, LG Chem, fornece baterias para:

· Chevrolet Volt da GM,

. Twizy e ZOE da Renault-Nissan,

· Atualizações para o modelo Roadster da Tesla.

Samsung SDI, também da Coreia do Sul, abastece a BMW (EV i3 e i8 PHEV) e a Fiat-Chrysler (500E EV), os dois fabricantes de automóveis confirmaram em cartas à Anistia.

O relatório revela que havia risco de que outras montadoras, incluindo Daimler, VW e o gigante chinês de veículos elétricos BYD, estavam usando cobalto vindo de minas na RDC, onde crianças e adultos trabalham em condições inseguras.

A Anistia Internacional usou documentos de investidores para mostrar como cobalto extraído na RDC é comprado por uma empresa chinesa, Zhejiang Huayou Cobalt (Huayou Cobalt), que abastece fabricantes de componentes de baterias na China e na Coreia do Sul. Por sua vez, esses fabricantes de componentes vendem aos fabricantes de baterias, incluindo LG Chem e Samsung SDI, que abastecem muitas das maiores empresas de automóveis do mundo.

A Daimler afirmou que ele não obtém diretamente da RDC nem de fornecedores na RDC. Da mesma forma, a VW negou vínculos com a Huayou Cobalt. Ambos informam que eles estão fazendo mais para detectar riscos de direitos humanos em suas redes de fornecimento de cobalto, mas não dão provas disso. Por exemplo, nenhuma das empresas explica de que maneira verificam as informações fornecidas a eles por seus fornecedores. Criticamente nenhuma delas divulgou a identidade de fundições nem qualquer avaliação da adequação das suas práticas. A BYD não respondeu ao pedido de informações da Anistia Internacional.

BMW, Fiat Chrysler mais honestas sobre as políticas de direitos humanos, mas ainda aquém dos padrões internacionais

A General Motors (GM) e Tesla não responderam a um pedido da Anistia Internacional para provar de que maneira identificam e lidam com os abusos de direitos humanos em suas redes de fornecimento de cobalto, particularmente em relação ao trabalho infantil. Renault disse que iria responder à Anistia “o mais cedo possível”, mas não deu mais informações.

Por outro lado, a BMW e Fiat-Chrysler enviaram respostas detalhadas, embora eles deixassem de dar provas suficientes de que estavam atendendo às normas internacionais aplicáveis às redes de fornecimento mineral:

· A BMW disse que estava investigando sua rede de fornecimento de cobalto desde 2013 e estava verificando com seus fornecedores para que identificassem suas fundições, cujos nomes se recusaram a revelar. A BMW acrescentou que Huayou Cobalt não era fornecedor e que tinha recebido garantias do seu fabricante da bateria, a Samsung SDI, de que Huayou Cobalt não fazia parte da sua cadeia de fornecimento. No entanto, a BMW não dá provas de medidas independentes tomadas para verificar a afirmação da Samsung.

· A Fiat Chrysler, outro cliente da Samsung SDI, também disse que Huayou Cobalt não fazia parte da sua cadeia de fornecimento. Da mesma forma, parece aceitar a afirmação da Samsung como verdadeira. A Fiat Chrysler admitiu que atualmente não “tem um programa especificamente voltado para a identificação das fundições de cobalto e refinadores.” Isto significa que a Fiat Chrysler não tem um sistema para investigar suas fontes de cobalto “ponto de estrangulamento” de origem na cadeia e portanto não tem como avaliar se o cobalto lavrado por crianças na RDC entra em sua cadeia de suprimentos.

O setor de carros eléctricos carece de transparência

Sob as diretrizes internacionais estabelecidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, na sigla em inglês), as empresas que utilizam cobalto extraído em áreas de alto risco devem identificar suas fundições ou refinarias, bem como divulgar a sua própria avaliação da adequação da fundição às devidas práticas de diligência na[SC2] identificação e tratamento de riscos e abusos dos direitos humanos.

Nenhuma das empresas acima mencionadas demonstraram ter atendido a esse padrão para cobalto.

A Anistia Internacional apela a todas as empresas multinacionais que usam baterias de lítio-íon para provar que estão implantando as suas políticas e serem transparentes sobre os resultados das suas investigações. É parte integrante que divulguem informações suficientes relacionadas a eventuais abusos de direitos humanos ou riscos de abuso que encontrem.

A ação voluntária das empresas não é suficiente. A Anistia Internacional também pede aos governos para aprovar leis que obriguem as empresas a verificar e divulgar publicamente informações sobre a origem dos minerais e seus fornecedores. Hoje não há regulação do mercado mundial de cobalto. O cobalto está fora do âmbito do “minerais de conflito” existentes estabelecem os EUA, que cobrem ouro, coltan / tântalo, estanho e tungstênio extraído na RDC.

Na França, a Assembleia Nacional aprovou uma lei que iria obrigar grandes empresas francesas, como a Renault, a evitar abusos de direitos humanos em sua cadeia de suprimentos. Ela será ouvida pelo Senado em outubro.

“Este projeto é um grande exemplo do Estado a assegurar que as empresas tomem os direitos humanos a sério e cumpram as suas responsabilidades. Se aprovado, as empresas poderão ser penalizadas por não agirem de forma vigilante”, disse Mark Dummett.

“Sem uma legislação que torne obrigatória a devida diligência dos direitos humanos, as empresas vão continuar a contornar o problema e beneficiar-se de trabalho infantil e outros abusos.”

Saiba mais

Para outras informações, ver o relatório lançado em janeiro de 2016 pela Anistia Internacional e AfreWatch, This is what we die for: Human rights abuses in the Democratic Republic of the Congo power the global trade in cobalt [É por isso que nós morremos: Violações dos direitos humanos na República Democrática do Congo impulsionam o comércio mundial de cobalto].