O bombardeio de uma caravana de ajuda humanitária das Nações Unidas e do Crescente Vermelho Sírio-Árabe, a mais de 78 000 pessoas na cidade síria de Alepo, na noite de segunda-feira, é uma violação dos mais fundamentais princípios da legislação internacional humanitária, avalia a Anistia Internacional.

Testemunhas na Síria reportaram à organização de direitos humanos que a caravana e o armazém do Crescente Vermelho foram bombardeados intensamente durante duas horas durante a noite, aumentando significativamente a suspeita de que as forças do Governo sírio tomaram deliberadamente como alvo aquela operação de ajuda humanitária.

“Um ataque continuado contra uma caravana e contra funcionários de ajuda humanitária, que é horrível em qualquer circunstância, tem neste caso um impacto desastroso não apenas para os civis que se encontram numa situação desesperada e aos quais aquela ajuda se destinava mas também para todas as operações humanitárias na Síria”, frisa o diretor de Pesquisa e Advocacy para a região do Oriente Médio e Norte de África da Anistia Internacional, Philip Luther.

O perito afirma que “se a caravana foi deliberadamente atacada – tal como parece ter sido – isto é mais um crime de guerra cometido pelo Governo sírio”. “[Este ataque] ilustra como os civis na Síria pagam com a vida cinco anos de uma impunidade absoluta por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Até que a comunidade internacional mostre seriedade em julgar os responsáveis, estes crimes chocantes vão ser cometidos todos os dias”, critica.

O vice-secretário-geral das Nações Unidas que tutela os Assuntos Humanitários e coordena a Ajuda de Emergência, Stephen O’Brien, afirmou que a caravana viajava com todas as autorizações de circulação necessárias e que todas as partes envolvidas no conflito na Síria tinham sido devidamente notificadas da sua rota. A ONU anunciou entretanto, e na sequência do ataque de segunda-feira à noite, a suspensão temporária de todas as caravanas de ajuda humanitária na Síria.

Pelo menos 20 civis foram mortos no ataque, de acordo com informações prestadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Testemunhas entrevistadas pela Anistia Internacional descreveram que uma série de aeronaves, incluindo helicópteros e jatos de combate de fabricação russa, participaram no bombardeio que ocorreu na cidade de Urum al-Kubra, na zona oeste da região de Alepo. Pelo menos 21 dos 31 caminhões que integravam a caravana foram total ou parcialmente destruídos.

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“As explosões centraram-se na localização do Crescente Vermelho, que está longe de qualquer presença militar. Não foi possível nenhuma operação de resgate e salvamento no local antes que o bombardeio cessasse e continuaram durante por pelo menos duas horas”, contou um trabalhador da ajuda humanitária em Urum al-Kubraaos investigadores da Anistia Internacional .

O ativista Abu Haytam descreveu ter ouvido um avião sobrevoando a região, mas que nunca imaginou que o edifício do Crescente Vermelho Sírio fosse tomado como alvo. Quando chegou ao local depois de o bombardeio terminar, muitos dos caminhões estavam em chamas e o armazém destruído, prosseguiu a testemunha.

“Vi os corpos de homens pelo chão. Disseram que eram condutores dos caminhões e voluntários que tinham ido descarregar os veículos. Os caminhões tinham todos o logo do UNHCR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, na sigla em inglês]. A caravana de ajuda humanitária transportava medicamentos, comida e muitos outros produtos que são desesperadamente precisos”, contou Abu Haytam.

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