Omar García – Estudante do segundo ano na Escuela Normal Rural Raúl Isidro Burgos “Ayotzinapa”, em Iguala, Guerrero, México.

Na noite de sexta-feira, 26 de setembro de 2014, Omar García, 24, escrevia um documento quando recebeu um telefonema desesperado de um de seus amigos que estava em um ônibus na cidade vizinha de Iguala.

Seu amigo lhe disse que policiais atiraram indiscriminadamente em um grupo de estudantes que estava atravessando a cidade em direção a uma manifestação na Cidade do México para marcar o aniversário do massacre de Tlatelolco, de estudantes desarmados em 2 outubro de 1968.

“Fiquei chocado e alarmado. Corri para fora do quarto, chamando meus amigos. “Estão atirando em nossos amigos em Iguala, nós temos que ir!” Gritei. “Todo mundo estava estarrecido”, disse ele.

“Cerca de 30 de nós fomos a Iguala. Quando chegamos, começamos a procurar em hospitais, tribunais, a prisão. Perguntamos às pessoas em toda parte se tinham visto nossos amigos. Todos disseram que não tinham visto”.

“As pessoas estavam com medo, muito medo. Ninguém queria ter nada a ver com isso. Dava para ver que eles estavam com medo de falar. “Eles não estão aqui, não sei de nada” – as pessoas continuavam a dizer-nos. Mas 43 pessoas tinham desaparecido, como é que ninguém diz nada? ”.

“Nós achávamos que eles estavam sendo mantidos em uma prisão e que iríamos encontrá-los no dia seguinte. Nunca pensamos num desaparecimento forçado, só tinha ouvido falar sobre isso nos livros de história e em histórias de Ciudad Juárez e outros lugares. Nunca tínhamos passado por algo parecido. A perspectiva era terrível. Os parentes estavam desesperados“.

“No dia 28 [de setembro], percebemos que eles tinham sido “desaparecidos”. Sabemos que foram policiais que os levaram“.

“Até agora, a resposta do governo tem sido vergonhosa. Acho que somos alvo porque fazemos se sentirem desconfortáveis. Eles querem nos usar como exemplo para que outros ativistas não se pronunciem”.

“Eu não tenho medo. Nós somos mais fortes pela da solidariedade que recebemos de pessoas de todo o mundo; não podemos desistir. Muitos dos estudantes ainda estão traumatizados com o que aconteceu, mas não vamos parar até encontrá-los”.

Melitón Ortega – Tio de Mauricio Ortega, um dos alunos de Ayotzinapa desaparecidos forçosamente.

Desde que ele soube sobre o desaparecimento forçado de seu sobrinho Mauricio, na noite de 26 de setembro de 2014, Melitón embarcou numa procissão épica. Ele marchou pelas ruas da Cidade do México segurando uma foto de seu sobrinho, na esperança de encontrá-lo. Reuniu-se com vários funcionários do governo, incluindo o presidente Enrique Peña Nieto do México, para exigir investigações eficazes sobre os acontecimentos trágicos.

Para Melitón é como se o tempo tivesse congelado na noite em que Mauricio desapareceu. Seu irmão, o pai de Mauricio, chamou-o em desespero depois de ouvir que Mauricio e outros estudantes haviam sido presos pela polícia em Iguala, mas que ninguém sabia onde ele estava.

“Foi um dia extremamente triste. Quando meu irmão me chamou fui direto para a escola. Nós pensamos que [os 43 alunos] haviam sido presos ou estavam escondidos. Tínhamos certeza de que iríamos encontrá-los. Mas os dias se passaram e aqui estamos nós, quase um ano mais tarde e ainda não sabemos onde eles estão. Isso é tortura,” disse ele.

“O governo tem tentado fazer todo mundo esquecer o que aconteceu, mas não vamos permitir. Nós não vamos parar até que encontremos nossos filhos, até que a justiça seja feita e até que uma investigação adequada seja conduzida“.

“A tragédia de Ayotzinapa obrigou o mundo a abrir seus olhos para a situação dos direitos humanos no México e a falta de justiça. O nosso não é um caso isolado, já vimos situações semelhantes em todas essas valas comuns que foram encontradas. México está sofrendo de uma crise massiva de direitos humanos com milhares de desaparecimentos. Ayotzinapa mostrou o nível de abusos e corrupção no México hoje”.

“O governo quer nos calar, mas não será capaz de fazê-lo”.

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