Defensoras de direitos humanos pelo mundo afora enfrentam níveis de abuso, intimidação e violência sem precedentes, disse a Anistia Internacional ao lançar sua campanha global Escreva por Direitos, que foca em mulheres corajosas que foram assediadas, presas, torturadas e até mesmo mortas pelo seu trabalho em prol dos direitos humanos. O lançamento global da campanha foi realizado em 29 de novembro, Dia Internacional das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos.

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As mulheres continuam enfrentando múltiplas formas de discriminação, tornando-se alvo por causa de seu gênero e por seu trabalho em prol dos direitos humanos. No entanto, elas se recusam a permanecer em silêncio e estiveram na linha de frente pelos direitos humanos em 2018.

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“As mulheres conduzem a resistência pelo mundo afora. Nós queremos honrar a postura dessas mulheres que desafiam o poder, se levantam para defender o que é certo e comandam as mudanças”, disse Kumi Naidoo, secretário-geral da Anistia Internacional.

“A posição de liderança em suas comunidades contrasta com o imenso desafio que elas tiveram que superar para chegar onde estão.

“Neste ano, o Escreva por Direitos, campanha global de mobilização e solidariedade da Anistia Internacional, defende as mulheres que estão desafiando a má legislação, as práticas corruptas, o policiamento violento e muitas outras coisas. Elas são as líderes que precisamos ver num mundo que, cada vez mais, toma o rumo do extremismo. Ao se unir a elas, você pode contribuir para equilibrar a igualdade, a liberdade e a justiça.”

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A campanha Escreva por Direitos 2018 verá os apoiadores da Anistia Internacional dando suporte às mulheres do Brasil, do Egito, da Índia, do Irã, do Quênia, do Quirguistão, do Marrocos, da África do Sul, da Ucrânia e da Venezuela que defendem os direitos humanos.

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Entre os casos, há pedidos de justiça para Marielle Franco, defensora de direitos humanos brasileira eleita vereadora e que foi executada em seu carro há oito meses; Atena Daemi, defensora iraniana que está cumprindo sentença de prisão de sete anos por ter se pronunciado contra a pena de morte; e Nonhle Mbuthuma, da África do Sul, que enfrenta ameaças de morte por se posicionar contra uma companhia mineradora que pretende extrair titânio em sua terra natal.

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“Nós queremos apoiar essas mulheres e suas famílias que enfrentam riscos e desafios por defender os direitos humanos. Nós queremos ver um mundo em que cada mulher possa levantar sua voz e se posicionar contra injustiças sem temer e no qual elas não sejam mais um alvo por ser quem são”, disse Kumi Naidoo. “É hora de nos unirmos e mostrar nosso apoio. Juntos podemos fazer a mudança acontecer.”

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Todos os anos, apoiadores ao redor do globo escrevem milhões de cartas para aquele que têm os direitos humanos atacados. Além de enviar mensagens de solidariedade, os apoiadores da Anistia Internacional podem escrever cartas e e-mails para pessoas em cargos de poder, instando-as para proteger essas defensoras dos direitos humanos.

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A primeira campanha Escreva por Direitos da Anistia Internacional aconteceu há 16 anos. Desde então, milhões de ações foram feitas por ativistas ao redor do mundo. Todos os anos, essas ações conduzem a mudanças reais. Pessoas presas erroneamente são libertadas, torturadores são levados à justiça e presos passam a ser tratadas de acordo com os direitos humanos.

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Receber uma carta também pode dar esperança às pessoas em um de seus momentos mais desesperadores. No ano passado, mensagens enviadas para Shackelia Jackson, na Jamaica, fizeram grande diferença. Shackelia continua a exigir por justiça para seu irmão Nakiea, que foi morto pela polícia sem que houvesse qualquer razão. Essa tragédia fez com que ela se tornasse uma liderança na luta contra assassinatos cometidos pela polícia em seu país.

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“Escrever uma carta para alguém pode parecer um gesto de gentileza muito simples e pequeno, mas seu efeito é imenso”, disse Shackelia.

“As cartas me lembraram da importância do meu trabalho e mostraram a minha família e a minha comunidade que nós não estamos sozinhos – fizeram da nossa luta pessoal por justiça uma luta global. E o volume total das cartas recebidas também mostra ao nosso governo que pessoas do mundo inteiro o observam e que estão esperando por justiça.”

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Shackelia lendo as cartas que recebeu de várias partes do mundo

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No Brasil, a Escreva por Direitos foi lançada em outubro e além de promover ações de pressão e solidariedade, a campanha brasileira destaca também o uso de materiais educativos para trabalhar direitos humanos. Para saber mais acesse escrevapordireitos.anistia.org.br

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A Anistia Internacional está convocando as pessoas a mostrar seu apoio a pessoas, grupos e comunidades ao redor do mundo que clamam por seus direitos. Este ano, entre as pessoas a quem os apoiadores da Anistia serão solidários estão:

Marielle Franco, Brasil

Marielle Franco lutou corajosamente por um Rio de Janeiro mais justo. Ela se posicionou a favor das mulheres negras, das pessoas LGBTI e dos jovens e condenou os assassinatos ilegais cometidos pela polícia. No entanto foi silenciada, brutalmente assassinada em seu carro. Seu assassinato compõe um triste cenário brasileiro, no qual ao menos 70 defensores dos direitos humanos foram mortos em 2017.

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Pavitri Manjhi, Índia

Pavitri faz parte de uma comunidade indígena Andivasi que está sendo forçada a vender suas terras para abrir caminho a duas usinas elétricas. Como líder da aldeia, ela ajudou as pessoas a apresentar quase 100 queixas formais contra as companhias envolvidas. Agora ela enfrenta ameaças por parte dos “homens fortes” locais, no intuito de forçá-la a retirar as queixas.

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Comunidade indígena Sengwer, Quênia

O povo Sengwer, no Quênia, tem uma profunda ligação de muitos séculos com a Floresta Embout. Mas essa comunidade de apicultores e pastores de gado vem sendo violentamente despejada pelo governo queniano. Guardas florestais queimaram casas e forçaram milhares de pessoas a sair de suas terras ancestrais, mas os Sengwer estão determinados a resistir.

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Atena Daemi, Irã

Atena sonha com o fim da pena de morte no Irã. Ela fez postagens no Facebook, Twitter e Instagram, distribuiu panfletos e participou de protestos pacíficos. Essas ações foram usadas como “evidências” para sentenciá-la a sete anos de prisão. Seu julgamento teve apenas 15 minutos e ela enfrentou violência e tratamento degradante na prisão.

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Gulzar Duishenova, Quirguistão

Em 2002, Gulzar perdeu o movimento das pernas após um acidente de carro. Ela assumiu como a missão de sua vida assegurar às pessoas com deficiência a possibilidade de viver com dignidade e de se movimentar livremente. Porém, ela enfrenta a discriminação diariamente, numa sociedade em que mulheres não podem falar livremente e que pessoas com deficiências são vistas como “inválidas”.

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Nawal Benaissa, Marrocos

Nawal se pronunciou para melhorar a situação das pessoas que vivem em sua região, onde muitos se sentem esquecidos pelo governo. Ela esteve em protestos pacíficos e fez campanha nas mídias sociais por justiça social e melhor atendimento aos cuidados de saúde. No entanto, ela foi perseguida pelas autoridades marroquinas e recebeu sentença de suspensão de 10 meses por “incitação a ofensa”.

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Nonhle Mbuthuma, África do Sul

Nonhle lidera a luta de sua comunidade contra uma mineradora que deseja extrair titânio em suas terras ancestrais. E ela está sendo assediada e ameaçada, tendo sobrevivido até mesmo a uma tentativa de assassinato. Estão tentando silenciá-la, mas ela não vai voltar atrás: “Quando você toma a minha terra, você toma a minha identidade.”

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Vitalina Koval, Ucrânia

Vitalina trabalha arduamente para apoiar as pessoas LGBTI da cidade em que vive, Uzhgorod. Mas ela foi violentamente atacada depois de organizar um protesto pacífico no Dia Internacional da Mulher de 2018. O ataque é apenas parte de uma onda mais ampla de intimidação promovida por grupos antidireitos da Ucrânia. Vitalina e outros defensores de direitos humanos não vão ser vencidos pelo medo e nós ficaremos junto deles.

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Geraldine Chacón, Venezuela

Geraldine sempre sonhou em defender pessoas. É por isso que ela ajuda a empoderar jovens de sua cidade para que se posicionem a favor de seus direitos. Mas ela tem sido perseguida pelas autoridades por tentar fazer de seu país um lugar melhor. Geraldine foi presa por quatro meses e proibida de deixar o país apenas por defender os direitos humanos. Seu caso continua em aberto, portanto ela pode ser presa novamente a qualquer momento e sem aviso.

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Amal Fathy, Egito

Amal postou um vídeo em que falava de sua experiência de assédio sexual e criticava as autoridades egípcias por negligenciar os direitos das mulheres. Agora ela foi sentenciada a dois anos de prisão por “disseminar notícias falsas” – e ainda enfrenta outras acusações. Amal Fathy faz parte da maratona de cartas no Brasil.

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Caso Marielle Franco é destaque da maior campanha de direitos humanos do mundo