Na última segunda feira (24/06), o Complexo da Maré viveu momentos de terror com a entrada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que terminou com a morte de dez pessoas, incluindo um sargento do Bope. A operação teve início após um arrastão que ocorreu durante manifestação no bairro Bonsucesso e os responsáveis fugiram para a Maré.

O Bope permaneceu na Maré durante toda a noite de segunda e praticamente todo o dia de terça feira. Preocupada com o agravamento da situação, a Anistia Internacional Brasil entrou em contato com o comando da operação, com o gabinete do Secretário de Segurança e com o gabinete do Governador solicitando que não houvesse mais violência. Na terça-feira (25), dezenas de pessoas fizeram um ato na comunidade de Nova Holanda, na Maré, pedindo a saída do Bope e uma política de segurança pública que respeite os direitos dos moradores.

“Uma operação policial com dez mortos não pode ser considerada bem sucedida. A polícia não pode tratar a favela como se ali fosse um território de exceção, é preciso romper a lógica da guerra. As pessoas que vivem na favela precisam ter seus direitos reconhecidos, os criminosos são uma minoria. Uma atuação mais cuidadosa da polícia certamente evitaria a morte de muitos inocentes”, afirma Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil.

Nesta quarta-feira (26), foi realizada uma reunião entre a Polícia Militar, organizações não governamentais que atuam na área e representantes das associações de moradores das comunidades que compõem o Complexo da Maré. Ficou estabelecida uma estratégia de diálogo maior com a comunidade, que contribua para romper a lógica de que a favela é um território de exceção. “Esperamos que a polícia passe a atuar respeitando os direitos dos moradores das favelas, porque somente assim sua ação terá legitimidade. É preciso reconstruir a confiança perdida para que seja possível chegar a uma política de segurança pública que atenda a todos os cidadãos e cidadãs da cidade, da mesma maneira”, defende Atila Roque.

No final do ano passado, uma parceria da Anistia Internacional, Observatório de Favelas e Redes de Desenvolvimento da Maré resultou na campanha “Somos da Maré e Temos Direitos”, cujo objetivo era informar os moradores sobre os seus direitos e preparar a comunidade para a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).