Mais de três quartos dos adultos na Grã-Bretanha acham inaceitável que as mulheres da Irlanda do Norte tenham que viajar até a Inglaterra para realizar um aborto, e que elas sejam forçadas a pagar por um serviço que é gratuito às mulheres no restante do Reino Unido, de acordo com a nova enquete da Anistia Internacional em parceria com a YouGov.

A enquete entrevistou mais de 2000 pessoas no mês passado e revelou que, enquanto dois terços dos entrevistados não sabiam ou, de forma errada, acreditavam que as leis do aborto eram igualmente aplicadas em todo o Reino Unido, aproximadamente três quartos acham que a lei deveria ser a mesma em qualquer lugar do país.

A atual legislação da Irlanda do Norte permite o aborto somente em circunstâncias altamente restritas – por exemplo, onde há risco a longo prazo à saúde física e mental da mulher. Mas as mulheres não podem optar legalmente pelo aborto se a gravidez for resultante de estupro, incesto, ou se o feto tiver alguma anomalia que impossibilite sua sobrevivência fora do útero. A publicação dos resultados da enquete surge enquanto o Departamento de Justiça da Irlanda do Norte revê as leis de acesso ao aborto.

No restante do Reino Unido, um aborto pode ser feito nas primeiras 24 semanas da gravidez, com o consentimento de dois médicos de que um aborto causaria menos danos à saúde física e mental da mulher do que continuar com a gravidez.

Um aborto pode ser feito em um estágio posterior se for necessário para salvar a vida da mulher, para evitar dano permanente à saúde física ou mental da gestante, ou se há risco substancial de a criança nascer com sérias deficiências físicas ou mentais.

Uma enquete semelhante realizada na Irlanda do Norte pela Milward Brown para a Anistia Internacional, na mesma época, revelou esmagador apoio comunitário para mudanças à legislação atual que permitiriam às mulheres maior acesso ao aborto nas circunstâncias mais extremas.

Essa pesquisa revelou que mais de dois terços dos adultos na Irlanda do Norte acham que as mulheres deveriam ter acesso ao aborto em casos de estupro e incesto. Três em cinco acham que o aborto deveria ser disponibilizado em casos de anormalidade fetal fatal (quando o feto não tem chance de sobrevivência).

Naomi McAuliffe, diretora de campanha da Anistia Internacional no Reino Unido, disse:

“É lamentável que haja uma regra aplicável às mulheres na Irlanda do Norte e outra para as mulheres no restante do Reino Unido. Os resultados dessa enquete mostram que as leis do aborto na Irlanda do Norte estão ultrapassadas, e que os políticos estão muito fora de sintonia com a maioria do eleitorado.”

“A grande maioria das pessoas de todas as comunidades da Irlanda do Norte quer leis reformadas para dar às mulheres o direito de escolher terminar uma gravidez indesejada em circunstâncias extremas. Isso alinharia a Irlanda do Norte aos padrões mínimos e leis internacionais”.

“O Reino Unido aderiu a tratados internacionais para proteger os direitos das mulheres e meninas à vida e à saúde. Isso deveria representar todas as mulheres e meninas no Reino Unido, não somente algumas de nós.”

Notas sobre a enquete

Todos os números relacionados à Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) são da YouGov Plc. A amostra total foi de 2.106 adultos. O trabalho de campo aconteceu entre 29 e 30 de setembro de 2014. A enquete foi feita online. Os números foram ponderados e representam todos os adultos da Grã-Bretanha (acima de 18 anos).

As enquetes mostraram apoio absoluto em todo o Reino Unido para o acesso ao aborto em casos de estupro (89% GB; 69%IN), incesto (85% GB; 68% IN), anormalidade fetal fatal (86% GB; 60% IN).

Na Inglaterra, Escócia e Gales, 72% dos adultos acham que as leis relacionadas ao aborto devem ser iguais em todo o Reino Unido. 76% dizem que é inaceitável que as mulheres da Irlanda do Norte tenham que viajar para acessar o aborto e que tenham que pagar por um serviço público que é gratuito às mulheres no restante do Reino Unido.

46% acreditam erroneamente que as leis relativas ao aborto são aplicadas igualmente em todo o Reino Unido. 19% não sabem se as leis são diferentes ou não.

Campanha ‘Meu Corpo, Meus Direitos’ e lançamento da enquete na Irlanda do Norte

A publicação dos resultados marcou o lançamento da campanha da Anistia Internacional ‘Meu Corpo, Meus Direitos’, na Irlanda do Norte para mudar as leis, as políticas e práticas do acesso ao aborto.

A campanha e os resultados da enquete na Irlanda do Norte foram lançados em uma reunião de imprensa em Belfast, no dia 21 de outubro.