O maior evento de cinema do ano já aconteceu, mas exploramos temas de direitos humanos em três filmes que foram indicados ao Oscar – e encontramos inspiração de ativismo em lugares inesperados!

Vice (Adam McKay, 2019, EUA)

Com Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell

Oscar 2019: vencedor da categoria de Melhor Maquiagem e Penteado. Indicado aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator (Christian Bale), Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Melhor Diretor (Adam McKay), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem

Quase irreconhecível, Christian Bale interpreta Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, cuja influência na invasão do Iraque em 2003 pelos EUA continua a ter repercussões globais. Cheney tornou-se notório por seu apoio vocal à tortura, à extradição extraordinária e à detenção arbitrária prolongada de centenas de homens na prisão de Guantánamo – basicamente as violações de direitos humanos mais evidentes da era Bush.

Em Vice, vemos Cheney e seus colegas discutindo posições de estresse, espaços confinados e simulação de afogamento – formas de tortura usadas pelos EUA no contexto de sua chamada “guerra ao terror”. A tortura é estritamente proibida pela lei internacional (e nacional dos EUA), mas, no filme Vice, Cheney descreve isso como “aberto à interpretação”. É um olhar arrepiante para as consequências catastróficas que surgem quando algumas pessoas no poder evitam a lei e ignoram totalmente direitos humanos.

A chamada “guerra ao terror” e a invasão do Iraque liderada pelos EUA continuam a ter consequências de longo prazo. A Anistia Internacional recentemente documentou como a invasão e suas consequências encheram o país com armas, centenas de milhares das quais desapareceram e acabaram nas mãos de grupos como o Estado Islâmico. Os iraquianos vivem com a ameaça diária de violência letal e Guantánamo permanece em aberto – no ano passado, a Anistia Internacional destacou o caso de Toffiq al-Bihani, que foi mantido em Guantánamo sem acusação ou julgamento desde o início de 2003. A ambição cômica de Vice significa que nunca se aborda seriamente as questões levantadas por alguns de seus assuntos, mas o filme serve como um lembrete gritante de que nenhum funcionário da administração Bush foi levado à justiça por tortura e crimes de guerra.

Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018, EUA)

Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o

Oscar 2019: vencedor nas categorias de Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino e Melhor Direção (Ryan Coogler), Direção de Arte. Indicado aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som

Pantera Negra é um dos filmes de super-heróis de maior bilheteria de todos os tempos. Além de ser o primeiro filme de super-heróis de Hollywood a apresentar um elenco predominantemente negro, incluindo grandes estrelas como Lupita Nyong’o e Chadwick Boseman, Pantera Negra é significativo pelo modo como lida com temas como racismo, opressão e colonialismo.

O filme conta a história da nação africana fictícia de Wakanda, lar de uma substância rara e notável chamada vibranium, usada por seus governantes para criar tecnologia superior. Para evitar a atenção de possíveis colonizadores, Wakanda usa um dispositivo de camuflagem de alta tecnologia que faz com que pareça pobre – usando a ignorância ocidental e o preconceito sobre a África para se proteger.

Quando o Rei T’Challa de Wakanda vai à ONU para dizer a outras nações que ele quer compartilhar a tecnologia e os recursos de seu país com o mundo, um homem branco responde de forma condescendente: “O que Wakanda pode dar ao mundo?” Isso reflete os vieses sobre os países africanos que ainda são onipresentes – lembra quando o presidente Trump chamou os países africanos de “merda”?

Com a violência policial ceifando centenas de vidas de pessoas negras nos EUA todos os anos, o filme Pantera Negra oferece uma visão alternativa de Hollywood para vida de pessoas negras, livre de opressão e estereótipos. Wakanda pode ser um lugar fictício, mas fora da tela não faltam ativistas negros que tomam ações heroicas todos os dias para defender direitos humanos. Desde o Embaixador da Consciência da Anistia Internacional, Colin Kaepernick, homenageado por seus protestos pacíficos em jogos da NFL, até para os corajosos jovens que lutam contra o racismo no Brasil, a Anistia Internacional se orgulha de trabalhar com uma série de super-heróis da vida real.

Ilha dos Cachorros (Wes Anderson, 2018, EUA)

Com Bryan Cranston, Koyu Rankin, Edward Norton

Oscar 2019: indicado aos prêmios de Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora Original

O mais recente filme de Wes Anderson mostra, por meio de uma bela animação, como os líderes podem angariar ódio e medo de uma minoria para servir aos seus próprios fins. Em Ilha dos Cachorros, o prefeito corrupto Kobayashi expulsa todos os cães para a Ilha do Lixo, um local miserável onde são forçados a lutar pelo controle de alimentos, território e recursos. Muitos deles adoecem e morrem.

A decisão cruel do prefeito é uma resposta a um surto de gripe canina, que ele usa para demonizar toda a população canina. Quando um professor encontra uma cura para a doença, Kobayashi o coloca em prisão domiciliar e o mata.

Disseminação de ódio, repressão de dissidentes, perseguição de opositores… Ilha dos Cachorros é uma representação canina da prevalência perturbadora de líderes que exploram a xenofobia e o medo e causam tanto sofrimento em todo o mundo.

Kobayashi se encaixaria bem com líderes como Trump, Putin, Duterte e Bolsonaro, que subiram ao poder usando a política da demonização. E a paisagem de lixo que os cães habitam parece especialmente sinistra numa época em que o planeta está sob ameaça sem precedentes da poluição e da mudança climática.

Mas nem tudo é má notícia! No final do filme Kobayashi é preso, graças ao trabalho incansável de dois ativistas amantes de cães chamados Atari e Tracey. Às vezes encontramos inspiração em lugares improváveis.

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