As autoridades líbias devem garantir que assassinato de uma destacada ativista dos direitos humanos em Benghazi seja devidamente investigado e que os autores sejam responsabilizados, disse a Anistia Internacional.

Salwa Bugaighis, advogada que desempenhou papel de destaque na organização dos protestos no início do levante que derrubou Muammar al-Gaddafi em 2011, foi morta a tiros em sua casa em Benghazi por desconhecidos no dia das eleições para um novo parlamento.

“O chocante e cruel assassinato de Salwa Bugaighis rouba uma das suas figuras mais corajosas e estimadas da sociedade civil líbia. Mas, infelizmente, ela não é a primeira ativista atingida durante a violência política que assola o país desde o levante e em sua consequência “, disse Hassiba Hadj Sahraoui, diretor-adjunto da Anistia Internacional para o Oriente Médio e Norte da África.

“As autoridades líbias devem fazer todo o possível para garantir que a morte de Salwa Bugaighis seja investigada a fundo, independente e imparcialmente, e que a pessoa responsável preste contas. Algo que obviamente não foi feito em assassinatos políticos anteriores.”

Salwa Bugaighis foi uma defensora da igualdade de gênero e da participação política das mulheres. Foi membro fundadora do Conselho Nacional de Transição da Líbia, que governou o país após a deposição do coronel al-Gaddafi. Nos últimos meses, ela trabalhou como membro do Comitê Preparatório para o Diálogo Nacional.

Ela foi baleada várias vezes no peito, estômago e cabeça, em sua casa em 25 de junho, e morreu pouco depois de ser levada para o hospital, de acordo com um porta-voz do Centro Médico Benghazi.

O marido de Salwa Bugaighis, Essam al-Ghariani, membro eleito do conselho municipal de Benghazi, foi dado como desaparecido, e teme-se que ele tenha sido sequestrado durante o ataque.

Horas antes de ser morta, Salwa Bugaighis deu uma entrevista por telefone à TV líbia al-Nabaa em que falou de intensos combates e bombardeios entre unidades do exército e elementos armados islâmicos em uma área residencial perto do complexo da Brigada Rafallah Sehati, milícia islamista.

Ela acusou alguns grupos de minar as eleições parlamentares e destacou a importância do processo de votação, pedindo proteção para os locais de votação.

Amigos de Salwa Bugaighis disseram à Anistia Internacional que ela havia recebido uma série de ameaças antes de sua morte, relacionadas às suas aparições públicas e posições políticas.

“Achamos que Salwa Bugaighis pode ter sido alvo tanto por causa seu ativismo político como por seu papel na promoção dos direitos das mulheres”, disse Hassiba Hadj Sahraoui.

O assassinato de Salwa Bugaighis, o primeiro assassinato de uma ativista feminina depois do conflito na Líbia, constitui a intensificação de agressões e ameaças às mulheres que se manifestam contra grupos extremistas.

Mulheres jornalistas e ativistas de direitos humanos têm sido cada vez mais perseguidas, intimidadas e atacadas por milícias de tendência islamista, grupos armados e os outros, num clima de anarquia generalizada.

Mulheres que se comportam de forma diferente da norma social – por não usar o véu ou se vestir de maneira considerada inadequada – têm sido especialmente visadas, sendo que muitas teriam recebido ameaças, inclusive ameaças de morte, através de mensagens de texto ou por mídia social. Assassinatos deliberados e outras agressões a ativistas, juízes e agentes de segurança têm sido uma característica de rotina da vida em Benghazi depois da derrubada do coronel al-Gaddafi.

“As agressões a pessoal de segurança e instituições estatais representam sérios obstáculos ao funcionamento da justiça, mas isso não é desculpa para a Líbia deixar de proteger os ativistas. As autoridades devem pôr em prática medidas de proteção para evitar que outras vozes críticas sejam brutalmente silenciadas”, disse Hassiba Hadj Sahraoui.

“Se as autoridades não investigarem efetivamente a morte de Salwa Bugaighis, uma cultura de impunidade e anarquia vai se consolidar, facilitando ainda mais assassinatos e agressões a ativistas, incluindo mulheres.”

A inabilidade das autoridades para tratar da segurança em Benghazi levou ao lançamento da “Operação Dignidade”, uma ofensiva militar contra grupos armados islâmicos acusados de abusos do mês passado.

O movimento – que é apoiado por várias unidades do Exército que atuam sem a aprovação do governo central – aprofundou a atual crise política e levou a uma escalada de violência em Benghazi, incluindo o disparo irresponsável de armas pesadas, que às vezes vitima civis.