A deplorável condenação de 55 pessoas em julgamentos feitos em um estádio na província chinesa de Xinjiang, na região autónoma Uigur do país, não é solução para os receios públicos sobre segurança, defende a Anistia Internacional.

Um total de 55 pessoas, que acredita-se serem na maioria da comunidade muçulmana uigur, foram condenadas em acusações de terrorismo, separatismo e homicídio. Três deles receberam sentenças de pena de morte.

“Aqueles que são responsáveis pelos ataques violentos recentes na China mostraram um total desprezo pela vida humana e devem ser julgados. Mas a realização de julgamentos apressados não devolve nenhuma justiça às vítimas. Condenar pessoas às pressas em julgamentos injustos irá apenas exacerbar as tensões na região”, defende o investigador da Anistia Internacional perito em China, William Nee.

Os julgamentos e leituras de sentença ocorreram esta quarta-feira, 28 de maio, num estádio daquela província no nordeste da China, perante mais de sete mil pessoas nas bancadas, segundo foi descrito pelos meios de comunicação estatais do país.

Acredita-se que todos os condenados estão em risco de serem torturados nas prisões. O líder do Partido Comunista Chinês em Xinjiang, Zhang Chunxian, declarou muito recentemente que todos os suspeitos de práticas criminosas nestes julgamentos deveriam ser “severamente punidos”.

“Com farsas como estas, as autoridades chinesas parecem estar mais preocupadas em cortejar os favores da opinião pública do que em aplicar a justiça. É muitíssimo improvável que os condenados tenham tido julgamentos justos”, avalia ainda William Nee.

Estes “julgamentos-eventos” surgiram em um momento de uma série de ataques e de uma crescente tensão na Região Autónoma Uigur de Xinjiang. Só em 22 de maio morreram 31 pessoas e 90 outras ficaram feridas quando bombas foram atiradas de dois carros que circulava numa movimentada rua da capital da província, Urumqi.

O Governo chinês prometeu uma campanha de “reação dura” aos ataques. Na semana passada foi lançada uma operação antiterrorismo, com a mobilização de vastas colunas de forças antiterrorismo e equipamento militar para aquela cidade.

“As autoridades chinesas têm o deve de garantir a segurança pública, mas a resposta dada até agora apenas irá ter como resultados provável o escalar da tensão na região”, remata o perito da Anistia Internacional.

As comunidades da etnia uigur na China enfrentam uma discriminação generalizada, desde o emprego à educação e à habitação, assim como marginalização política e restrições à liberdade religiosa.