Na noite de 3 de junho, Hakan Yaman voltava para casa do seu trabalho como motorista de microônibus em Istambul, Turquia. Após um fim de semana de grandes protestos, que foram respondidos com violência generalizada por parte da polícia, o clima na cidade estava tenso.
No dia 30 de maio, a polícia havia espancado os manifestantes e lançado bombas de gás lacrimogênio contra eles, além de incendiar as barracas que haviam montado no Parque Gezi, no centro da cidade. A população estava se manifestando contra a ameaça de destruição de um dos poucos espaços verdes que restava em Istambul.
A causa que estava em jogo e a resposta abusiva das autoridades trouxeram as sensibilidades à flor da pele. Nos dias que se seguiram, dezenas de milhares de cidadãos resolveram sair às ruas em toda a Turquia. As autoridades responderam com mais violência, gás lacrimogênio e prisões.
Hakan, de 37 anos, voltava do trabalho para casa, onde encontraria sua esposa e seus dois filhos, quando passou por uma manifestação de protesto contra a violência policial dos dias anteriores. Alguns instantes depois, os policiais o atacaram de maneira brutal.
“Primeiro, fui atingido por canhões de água,” contou mais tarde à Anistia Internacional. Em seguida, senti o impacto de uma bomba de gás lacrimogênio no estômago e caí no chão. Uns cinco policiais me cercaram e começaram a golpear minha cabeça muitas vezes. Um deles enfiou um objeto duro no meu olho e arrancou-o fora.
Ouvi um deles dizendo: “Esse já era – vamos terminar de vez com ele”. Então me arrastaram por uns 10 ou 20 metros e me atiraram em uma fogueira. Quando saíram, consegui rastejar e sair do fogo. Fui levado ao hospital pelos manifestantes.”
Hakan perdeu totalmente um olho e 80% da visão no outro olho. Teve fraturas múltiplas e graves na face e no crânio e queimaduras de segundo grau nas costas. “Pensaram que eu era um manifestante e tentaram me matar,” contou.
O que aconteceu com Hakan foi algo excepcionalmente brutal, mas que está longe de ser um caso isolado de violência policial. Segundo a Associação Médica da Turquia, foram registrados, até o dia 10 de julho, mais de 8.000 casos de pessoas feridas durante as manifestações. Há fortes indícios que relacionam a morte de três indivíduos à violência da polícia.
A Anistia está demandando que as autoridades turcas impeçam qualquer forma de violência injustificada contra os manifestantes ou a população em geral. Também estamos requerendo que todas as denúncias de maus-tratos cometidos durante as manifestações do Parque Gezi sejam efetivamente investigadas e que os responsáveis sejam levados à Justiça.
A vida de Hakan mudou para sempre depois dessa agressão. Ele apresentou uma denúncia criminal por tentativa de homicídio. No momento em que este artigo foi publicado na revista WIRE, os promotores haviam entrevistado três policiais da tropa de choque que negaram qualquer envolvimento.
Hakan jamais poderá voltar a dirigir um microônibus. “Nossos filhos ficaram muito abalados”, conta Nihal, sua esposa. Nas primeiras semanas, sua filha mais nova ficou tão chocada que não conseguiu falar nada com o pai. “Agora ela não sai de perto. Está sempre abraçando e beijando ele,” diz Nihal.
Entre em ação Escreva uma carta pedindo justiça.
*Artigo publicado na revista Wire