Por ocasião do dia mundial contra a censura na Internet, Edward Snowden fala com a Anistia Internacional sobre a forma que os governos utilizam para observar tudo o que fazemos na internet, e que por este motivo devemos voltar a ter a vigilância em massa sob controle.
Atualmente, o governo se atribui o poder de controlar as vidas privadas de todos os cidadãos; de cada homem, mulher, menor de idade, menino, menina. Não importa quem você é, ou se você é inocente ou não: tudo o que fazemos é observado. O interceptam, o analisam e armazenam cada vez mais.
O fato de existirem agências como a Sede de Comunicações do Governo dos Estados Unidos observando através de webcams os quartos das pessoas, dentro das quatro paredes dos seus lares, é assustador. A Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos coleta bilhões de registros de localização de telefones móveis diariamente, deste modo sabem onde você pega seu ônibus, onde trabalha, onde dorme e quantos outros números de celulares estão ligados a você. Devemos perguntar-nos: “Por acaso desejamos viver em uma sociedade na qual estamos completamente despidos perante o governo, e onde o mesmo é totalmente obscuro para nós?”
Há quem diga: “Se não cometeu nada de errado, não há porquê temer um governo que espione”. Mas a questão não é ter o que ocultar, mas sim poder ser você mesmo. Trata-se de ter o direito de se relacionar com quem queira, sem ter que se preocupar quanto à imagem que você transmite, ou sobre registros privados guardados em algum cofre do governo. É perceber que existem razões para fechar a porta do banheiro. Existem razões pelas quais nós não queremos que a polícia tenha uma câmera de vídeo, com a qual nos observa enquanto tomamos banho.
Você pode ser a pessoa mais inocente do mundo, mas se alguém programado para ver padrões de delinquência analisa seus dados, não irá enxergar a você e sim a um criminoso. Eu sei disso, porque fui um analista, sentado em uma mesa dedicada a monitorar as pessoas, sei que as informações que estão nos bancos de dados facilmente podem levar a conclusões errôneas, em particular quando aqueles que analisam os dados estão à procura de terroristas e criminosos.
Ainda que hoje tivéssemos o governo mais responsável do mundo, amanhã isso poderia possuir outra configuração. E em tempos de conflito, quando enfrentamos poderosos inimigos estrangeiros e a ameaça do terrorismo, é ainda mais importante que protejamos os nossos valores, pois em períodos de pânico é quando perdemos os direitos. Não queremos que os nossos políticos pensem: “Preocupa-me que as pessoas digam que eu não fiz o suficiente, por isso prefiro fazer mais”.
De repente, temos sistemas algorítmicos para aplicação da lei, para investigar e prever a atividade criminosa. O que acontece é que, quando percebemos que a pessoa à nossa esquerda ou a nossa direita foi detida por uma violação da lei incrivelmente leve, evitaremos a todo custo fazer qualquer coisa que possa ser considerada controversa. Não haverá liberdade de expressão.
A intimidade é para quem não possui poder. A transparência, para aqueles que o têm. É desnecessário dizer por quais motivos desejas que o Estado te deixe em paz. Em uma sociedade livre, o estado natural é ter o direito a ser livre. Que desejem restringir e controlar nosso cotidiano altera em muito a natureza da sociedade humana.
Anistia Internacional juntou-se a Adblock no Dia Mundial contra a Censura na Internet para sensibilizar o público sobre a repressão da liberdade de expressão no mundo. Adblock é uma ferramenta que ajuda os usuários da Internet a bloquear a publicidade indesejada, e no dia 12 de março de 2016 substituirá os banners de publicidade pelo conteúdo que a censura de alguns países não quer que a população veja.