Persiste uma profunda preocupação com a segurança dos manifestantes indígenas na Colômbia ante a escalada de violência contra eles por parte das forças de segurança e após seus dirigentes terem sido ameaçados de morte por um grupo paramilitar de linha direitista, afirmou a Anistia Internacional.
Dezenas de manifestantes indígenas – entre eles muitas crianças – ficaram feridos em consequência do suposto uso excessivo de força por parte das forças de segurança para dissolver as manifestações, que começaram em 12 de outubro e continuam em vários outros estados do país.
Ao medo de novos episódios de violência somou-se, na semana passada, o apelo do grupo paramilitar Los Rastrojos por uma “limpeza social” dos dirigentes e grupos indígenas implicados nos protestos.
“A maioria dos testemunhos recolhidos pela Anistia Internacional em várias partes da Colômbia apontam para um uso da força profundamente preocupante e em grande medida desproporcional contra os manifestantes indígenas por parte da polícia e das forças armadas”, afirmou Marcelo Pollack, investigador da Anistia Internacional sobre a Colômbia.
“As autoridades colombianas devem garantir o fim da violência contra os manifestantes e a investigação pronta e completa das denúncias de uso excessivo da força, bem como das ameaças de morte por paramilitares. Os responsáveis devem ser processados em tribunais civis e não militares. Do contrário, podem haver mais vítimas com a continuidade dos protestos.”
Protestos dos indígenas
Milhares de indígenas estão se manifestando desde 12 de outubro em vários estados da Colômbia. Exigem que respeitem seus direitos, cada vez mais ameaçados devido à invasão de suas terras tradicionais por empresas mineradoras, petroleiras e de outros interesses econômicos.
Motivos de preocupação relacionados com a segurança.
As ameaças de morte contra dirigentes indígenas ocorrem neste contexto de suposto uso excessivo de força por parte das forças de segurança colombianas. Em sua ameaça de morte, feita por escrito em 15 de outubro, o grupo paramilitar Los Rastrojos nomeou expressamente organizações e dirigentes religiosos dos estados de Cauca, Caldas, Risaralda, La Guajira, Huila e Antioquia.
Os paramilitares ordenaram aos manifestantes que voltassem para suas casas no prazo de 24 horas ou os considerariam objetivos militares e os matariam como parte de uma “limpeza social”. Os paramilitares asseguraram que os manifestantes indígenas estavam sendo usados como “bucha de canhão” pelo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC).
“Em vista dos informes sobre uso excessivo da força contra manifestantes nos últimos 10 dias, nos preocupa profundamente a segurança dos dirigentes indígenas e dos membros das organizações citadas na ameaça de morte feita pelos paramilitares” disse Marcelo Pollack. “No passado, pessoas qualificadas de subversivas ou colaboradoras da guerrilha foram objeto de frequentes e graves violações de direitos humanos por parte de paramilitares que atuavam sozinhos ou em conivência com as forças de segurança.”
A Anistia Internacional também se preocupa que a recente reforma do sistema de justiça militar, em virtude da qual será quase impossível levar à justiça os membros das forças de segurança implicados em violações de direitos humanos, pode ter contribuído para encorajar as forças armadas e a polícia a usar força excessiva contra os manifestantes.
A organização pediu às autoridades civis colombianas que investiguem de maneira independente todas as denúncias de uso excessivo de força por parte das forças de segurança, bem como as ameaças de morte contra dirigentes e organizações indígenas por parte de paramilitares.