Na manhã deste sábado (18.04), o corpo do indígena Ari Uru Eu Wau Wau, de 34 anos, foi encontrado numa via de acesso a aldeias da terra indígena da etnia, em Rondônia. De acordo com informações da imprensa especializada, ele era primo da liderança Awapu Uru Eu Wau Wau, que já sofreu diversas ameaças de mortes e ano passado denunciou ter escapado de uma emboscada. Já segundo a associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), ele integrava o grupo de vigilância de seu povo.
Pesquisa da Anistia Internacional realizada em 2019 mostrou que a terra indígena do povo Uru Eu Wau Wau, assim como outras terras indígenas na Amazônia, tem sofrido sucessivas invasões por parte de grileiros e madeireiros. O levantamento realizado reuniu relatos de lideranças indígenas que afirmaram estar sofrendo ameaças por esses invasores e também apontaram a ausência dos órgãos responsáveis pelo monitoramento ambiental e da situação dos povos indígenas, especialmente o Ibama e a Funai. O governo do Presidente Jair Bolsonaro tem enfraquecido financeiramente esses órgãos desde o início. Além disso, o discurso de Bolsonaro contestando os direitos dos povos indígenas desde antes das eleições e defendendo as invasões de suas terras autorizam que elas ocorram. Em 2019, as mortes de lideranças indígenas em conflitos do campo foram as maiores desde os 11 anos anteriores, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra.
A responsabilidade por investigar mortes de indígenas em conflitos por terra é da Polícia Federal. No entanto, as lideranças indígenas Uru Eu Wau Wau afirmam que é a Polícia Civil que está à frente das apurações sobre a morte de Ari, tratando-a como um homicídio sem relação com as invasões sofridas na terra indígena. Para a Anistia Internacional, é urgente que a Polícia Federal atue no caso:
“Exigimos que as autoridades brasileiras tomem todas as medidas necessárias para investigar a morte de Ari Uru Eu Wau Wau e para garantir o direito de sua família e de seu povo à verdade e à justiça. É preciso que se esclareça urgentemente se a sua morte está relacionada à série de invasões que sua terra vem sofrendo”, afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional, que segue:
“É obrigação do Estado Brasileiro e de seus representantes proteger os povos indígenas do Brasil. Mas o que temos visto é uma série de desmontes e violências. Entre os direitos intensamente violados desde 2019 estão o direito à vida, à segurança, à terra e ao território. Cobramos imediatamente das autoridades que medidas concretas sejam adotadas. Além disso, em tempos de pandemia, é preciso fortalecer os órgãos federais responsáveis pela proteção e a saúde dos povos indígenas, assim como proteger suas terras, evitando que invasores levem o vírus para essas populações. Bolsonaro e Sergio Moro devem garantir todas as condições necessárias para que a Funai e a Polícia Federal atuem pela proteção desses brasileiros e brasileiras”.